QUANDO TUDO SE VAI

Desculpa porque fui tão fraco nas horas difíceis que você passou.

Pelos muitos momentos jogados fora em minha companhia. É que uma parte em mim quer só ir embora enquanto a outra se perde em pensamentos.

Desculpa por minhas mãos vazias te acariciando enquanto dormias. Pelo perfume do meu corpo deixado em tua cama todas as manhãs. Pelos poucos versos quase sempre tolos falando de amor. É que uma parte de mim é um poeta bobo enquanto a outra não escreve por não saber rimar.

Desculpa pelos compromissos que te fiz cumprir quando já estavas exausta. Pelos meus poucos risos soltos e o jeito louco de me comportar. Pelo teu sacrifício em aceitar os meus vícios de beber e fumar. É que uma parte em mim se perde fácil enquanto a outra demora a se encontrar.

Desculpa pelas madrugadas que não te levei pra ver o sol nascer em frente ao mar. Pelos sonhos que te fiz sonhar sem fazer nada pra realizá-los. Por uma outra vida que merecias e eu não pude dar. É que uma parte em mim ainda é jovem e viva enquanto a outra é cansada e demora a despertar.

Desculpa pela paixão, pelo amor e o ciúme intenso que acabou te levando embora. Por tantas horas, sem paciência, que não pude te esperar. Pela ânsia de te querer sempre perto em horas impróprias a teu cotidiano. Uma parte em mim é egoísta e sem compaixão enquanto a outra morre de medo da solidão.

Desculpa se em mim moram tantos conflitos. É por conta da genética que me entrelaça como uma teia de aranha cheia de fios, nós e muitos espaços vazios. As partes divergem a cada instante do dia sem saber qual delas naquele momento me comanda.

Desculpa se eu era apenas o que desejavas. Pra mim, eras mais do que eu merecia. O amor não se mede num relógio, feito as horas, e sim com a intensidade com que foi vivido. Assim ficará vivo e guardado para sempre dentro do coração como um sonho bom. Vou continuar seguindo em frente, mas te amando sempre, mesmo estando distante de ti.

Como sou feito de partes, quase todas hereditárias, não sou um todo perfeito. Uma parte em mim ama e canta enquanto a outra sofre e vai embora.

Maceió, Novembro de 2005

Herivaldo Ataíde
Enviado por Herivaldo Ataíde em 04/07/2009
Reeditado em 08/07/2009
Código do texto: T1681450
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