O perdão

Querido Diário,

Rabisco estas linhas para mim mesma. Há uma necessidade de fazer aquela conversa interior, de me sentir livre de meus erros no amor. Meu coração é o grande algoz dessa tortura de minh’alma. Então, só tendo um diálogo franco. Abrir meus segredos a esse silêncio que habita em mim. O grande problema (de ser fiel à conversa) são minhas verdades particulares.

Há tempo demais entre minhas noites com meu amado e esta data de então. Meses. E como se falar do que vai ao coração, se ele é tão calado? Desde a adolescência tive esses entraves com minhas emoções, com minhas palavras do que sentia. Lembro que no fundamental, as meninas de minha idade tinham já seus encontros com namoradinhos; suas descobertas sobre menstruação divididas; os comentários felizes sobre os beijos nos horários vagos na escola do ginasial. Eu era sempre muito retraída. Isso me persegue até hoje. Talvez venha daí minha solidão. Sempre tive medo de declarar-me amando.

Eu até quis mostrar meu amor a um alguém que me é especial, mas eu só consegui afastá-lo de mim. Tive medo de dizer que só era dele meu coração, que só os seus beijos eu ansiava. Fiquei presa a meus anseios de não ser querida verdadeiramente e deixei-o ir com o vento. Corrijo: com a ausência de minhas palavras...

Sabe de quando somos tão covardes, que temos medo de receber o amor? Nunca ouvi de alguém ter se negado a um presente desses. O pavor foi tanto que botei os pés pelas mãos e o magoei. Ele disse-me: “Vais por este caminho”, e eu fui à seta ao contrário...

E não tenho costume de falar de meus sentimentos. Porém julguei ser até mais difícil ter esse diálogo. Não que já tenha entendido o que fiz de mim; se sou um ser incorrigível no amor ou só uma mulher que se magoou demais na vida! Estou aqui, com uma confusão total em alguns pontos. Das verdades a que cheguei, há o caso de que queria conversar assim com ele; contar do que me motivou a agir como o fiz. Pedir-lhe perdão por não ter sido mulher o suficiente para entender que não viveria sem ele. Eu só tinha de dizer que o amo... e muito.

Fiz tudo errado, sei disso.

Tempos depois eu ainda sou um amor na vida dele para merecer-lhe o perdão?

Brasil, 30 de junho de 2009.

dona T
Enviado por dona T em 30/06/2009
Código do texto: T1675359
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