PUBLICAR OU NÃO PUBLICAR?
(para Gilda Delgado, em Maricá/RJ)
Amada Gilda! Vamos por partes, como diria Jack, o célebre estripador! Assim que vou repartir a tua mensagem anterior pra poder responder, OK?
A tua linguagem, nesta, é a do proverbial iniciante: o autor fica embasbacado com a sua inventiva e criatividade – novas magias – e anseia pelo sucesso.
Às vezes, erroneamente, corteja a fácil popularidade. Quer “chegar na couve” muito cedo, como diria a gurizada, em sua gíria picaresca. Sempre ocorre isto com quem está a se iniciar nas Letras.
Os editores ficam pesquisando quem se atreve a publicar e quem tem poder aquisitivo para tal. Olham o perfil publicado nas fontes disponíveis. Apostam. Se colar, colou. Estou sendo extremamente franco e sincero. Este é o meu perfil.
Se ainda não sabes o que produzes, se achas que o texto ainda não tem qualidade, remete a mim que te ajudarei na escolha dos mesmos. Escolherei e te avisarei o que pode ser publicável. Digo isto com base na tua confiança em mim, OK?
As tais "coisas da minha alma" são como o diletante denomina o seu processo de criação, mormente nossas amadas mulheres. Acreditam piamente na sensibilidade pessoal e se esquecem do leitor, que é outra pessoa, outro universo. É para este que escrevemos, não para nós mesmos. Tenho um texto, no Recanto das Letras, em que me preocupei em examinar isto.
E cada um vê o mundo conforme o concebe... Há uma inocência de propósitos nos novos que chega a fazer com que o autor experiente sinta dó! Mas é assim mesmo que as coisas começam. Assim, meio sem sentido, querendo “sentir o mundo que nos rodeia”, não é mesmo?
Grande parte do processo de produção de boa poesia tem regras, cânones próprios, contemporâneos. Encontramos isto depois de muito andar pelos clássicos e outros quejandos.
Descobre-se mais tarde, quando se identifica a metáfora e outras figuras de linguagem e começamos a alicerçar o estilo pessoal.
Vai lendo os meus textos no Recanto. Abordo isto em muitos deles. Procuro acicatar os autores novos e novatos. Exponho e retrato o que tenho vivenciado em cerca de trinta e cinco anos de condenação ao verbo.
Veja os textos com alguns títulos instigadores, provocatórios, e os abras, rogo, para que elabores juízo pessoal.
São exemplos: ‘Contemporaneidade no verso e na prosa’; ‘Sentimento: a ilusão na poesia’; ‘Disputar espaço no associativismo literário?’; ‘Posteridade na arte poética? Aceitemos o desafio’; ‘Reflexões sobre a Poesia’; ‘A luta pela Poesia’; ‘Palavra: esse mistério!’; ‘Poetar é mimetizar a vida’; ‘A psique atordoada’, etc.
Peço que não mistures filosofia com poesia. Marx, Kant e Hegel são instigadores de outra vertente. São coisas diferentes, embora, por vezes, se tangenciem. Mas é ótimo ter formação filosófica. Ajuda em muito na elaboração do poema.
Cuidado pra não te perder em longas explicações. Poesia é linguagem de síntese. Esta dama da palavra não compactua com o tal "como queríamos demonstrar”, o C.Q.D. matemático dos teoremas ginasianos. E nem comporta silogismos filosóficos. A lógica formal a ela não se aplica.
É a vida, onde o caminho mais curto entre dois pontos nem sempre é a reta. Poesia é a matéria da vida transfigurada, no dizer de Zeferino Fagundes, poeta e pensador, meu mestre de humanidades.
Os editores querem o mercado de novatos e novos, mas são estes que desejam a publicação. Engravidam-se facilmente e, depois, é dar a luz ao rebento. E pagam o que puderem pra se ver nas páginas do gibi cultural.
O editor é o beneficiário, sempre. Ele vive disto. Nunca se sabe a seriedade deles, mas o que querem é ganhar dinheiro. Só o longo tempo no mercado pode dar alguma credibilidade.
Muitos se iniciam na editoração em pequenas cidades do interior e se dão bem. Prosperam à conta e ordem do autor. São empresários! Que mal há em oferecer a comida a quem tem vontade de comer?
Acho que as dúvidas, no exterior, cabem, identicamente aqui. O papel aceita tudo, basta ter dinheiro. Só que lá custa muito mais caro editar, publicar. Lá, como aqui, os editores só apostam em favas contadas. E não há muitos Paulo Coelho dando sopa por aí.
O Rossyr Berny é o editor de meu último livro, o OVO DE COLOMBO. Um lutador na área de edição, que tem cumprido seus compromissos com os novos e novatos. Até aposta em alguns veteranos como eu.
Investe o seu pequeno capital de giro com vigor e talento. Boa equipe de atendimento aos autores e terceirização da impressão em boas casas do ramo. Tudo informa que está trabalhando bem. Tem a credibilidade de 20 anos no mercado. Tudo a seu favor. É o que vejo de fora, como autor.
Acaba que o nome de alguém que já está um pouquinho conhecido, publicizado nos sítios da NET, leva gente para os projetos editoriais, como está ocorrendo agora. Colocado o nome deste no projeto do calendário, que é uma bela peça gráfica, convidativa, gera-se a procura do produto. Um pouco oneroso, mas, se tens disponibilidade financeira, toca o barco.
Para um calendário, seria bom que a peça literária fosse um poema ou uma prosa poética com alguma síntese, devido à natural falta de espaço gráfico.
Ao que tudo indica, parece ser aconselhável tal publicação. É preciso investir no que se quer. Tudo aconselha que se tente mostrar o talento, mesmo que ainda precoce. O leitor que o diga. E sempre leva algum tempo.
E tem mais! Quem quer coquinho tem que subir no coqueiro! Ou pagar alguém para que faça o trabalho por ou para ele!
Quanto ao mérito, o que seria do verde, se todos gostassem do amarelo?
– Do livro CONFESSIONÁRIO – Diálogos entre a Prosa e a Poesia, 2006 / 2007.
http://www.recantodasletras.com.br/cartas/165626