CARTA A EURÍPEDES BARBOSA RIBEIRO

Sobre o seu comentário em minha crônica MOBRAL, DE 17/06/09

Meu Caro poeta Eurípedes,

As ditaduras, sejam de quais vertentes forem não são boas para ninguém. Nem mesmo para quem as exerce. Taí a história. Li livros proibidos para entender a lógica das sociedades e quem me dera tivéssemos uma tribuna livre como essa aqui para falarmos à vontade, há 20, 25 anos. Era proibido.

Tive sim uma formação intelectual e ideológica fincada nos pilares do socialismo que pregava igualdade, fraternidade entre os homens, não ditadura de estado ou de grupos. Mas taí também a história provando que o próprio homem fez com que não tivessem êxitos as suas tentativas de implementação. O que para mim se torna uma encruzilhada e uma lástima. Nem o capitalismo nem o socialismo no meu entender atingem os ideais com os quais eu sonho. No entanto, eu não considero que vivemos pior hoje do que ontem.

Do ponto de vista estritamente econômico, cada período teve suas fases de subordinação ao capital internacional disfarçada nas mais variadas formas . Do ponto de vista social, somos ainda uma nação muito jovem, infantil e em formação. Portanto mais suscetível a aventuras mirabolantes, oportunistas, pragmáticas. O certo é que a grande maioria da população passa ao largo das decisões que lhe são tão caras, a despeito de toda a aparente democracia institucional em que está inserida.

Liberdade de expressão e manifestação, essa é sagrada, tanto quanto o pão à mesa de todos, sem exceção. Disso eu posso me queixar com bastante propriedade. Não me veio esse sentimento só das literaturas e reportagens a respeito. Foi na pele. Eu não posso, por exemplo, considerar o meu pai, um sujeito simples, operário, sem nenhuma formação ou influência ideológica, um “entreguista”, um comunista, um terrorista ou (subversivo, como era comum o rótulo), a serviço de nenhuma república socialista somente porque tornou-se liderança sindical nos idos 60/70 e reivindicava melhores salários e condições dignas de trabalho. Por esse motivo, a minha casa foi alvo de atentados à bomba, foi ele cassado do mandato, teve com contrato de trabalho suspenso, sem renda alguma, viver de favores de amigos para ajudar a sustentar sua prole de nove filhos. Mas também não quero isolar um caso para usar com justificativa de nada.

Na obstante a minha formação (fui fundador do PT), não alimento nenhuma ilusão de que com ele, com o PSDB, com Demos, PMDB e outras tantas siglas institucionais venhamos a vislumbrar um futuro menos trágico e caótico em nossa sociedade. A tão propalada cidadania não passa de um arremedo. A sua construção tem que ser conquistada, não uma benesse, como nos fazem crer. Uma democracia que não haja a ativa e consciente noção do significado das responsabilidades não se efetiva nunca. A noção que temos é de direitos.

A corrupção que nos assola não foi inventada nos últimos seis, sete anos. São 500. Aportaram os europeus no continente e ela veio junto. Foi se aprimorando (e vem se aprimorando). Tal como as políticas assistenciais. Já tivemos pão e circo para todos os gostos. Comecemos lá com D. João VI, passemos por todo o período monárquico, pela primeira república, por Vargas, Juscelino, os militares e os demais presidentes que os sucederam. Foram nomes de programas diferentes para as mesmas esmolas. Fosse diferente e não seríamos ainda um país que clama.

Agora, depois de muita militância (que não considero vã, nem derrotada nem vitoriosa) aprendi valorizar cada minuto como aprendizado de vida. Procuro e sempre procurarei fazer com que aqueles que me cercam e dependem de minha opinião ou apoio que o recebam com um viés crítico e possam colocar em prática em seu cotidiano, afinal “ vida sem reflexão não vale a pena ser vivida” e eu comungo diariamente com esse princípio.

Na literatura, procuro ser engajado (coerente comigo mesmo), mas não estou atrás de adeptos. Estou em busca de leitores que sonhem. E que sonhem e depois façam do texto o que melhor lhes aprouver. Saiu da minha pena, não mais me pertence.

Abraços fraternos. Paz e bem.

josé cláudio Cacá
Enviado por josé cláudio Cacá em 17/06/2009
Código do texto: T1652832