Tudo o que eu não sei

Talvez tenha sido com você que desaprendi o pouco que eu sabia sobre amor e percebi que não existem sintomas gerais de paixão. Eu deveria ficar sossegada (e creio que de fato esteja), pois hoje vejo que ataques cardíacos não são reações causadas apenas por sua presença. Qualquer um que tenha o poder de invadir minha imaginação pelo tempo razoável de uma hora, é capaz também de acelerar meus batimentos.

Durante um choro compulsivo (conseqüência de suas extravagâncias), descobri o prazer sádico de se enterrar sentimentos perdidos. Velei sobre as lembranças mortas e fechei o luto com um sorriso. Tenho uma capacidade ímpar de criar bloqueios para a dor, tanto que me pergunto se realmente “nós” existimos algum dia e, se existimos, qual foi a razão?

Entre tudo que desaprendi com você, houve algo que, ao contrário, pude aprender: resgatei a noção de tempo. Sei que os dias distanciam as pessoas, fazem as memórias perderem a cor, confundem o que foi com o que somente desejamos que tivesse sido. É dos nossos desejos frustrados que nasce a cruel nostalgia. Já não sou alheia ao relógio, não me prendo ao ontem como se o vivesse agora. No vão dos ponteiros ansiosos esqueci o que eu sabia, aprendi a acreditar no que jamais quis e abandonei minhas dúvidas.

Em casos de amor regras são mitos, não existem e ainda assim possuem exceções. Metodologias suavizam os impactos do que poderia ser grandioso e nos trazem a falsa sensação de estarmos no controle de tudo e de que temos consciência do que sentimos.

Quando os tais sintomas passam, acreditamos que a paixão se foi e logo nos chamam de inconstantes. Pelo contrário! Sou constante – constantemente enganada por minhas primeiras impressões. A impressão com a qual ficarei será a última, aquela que me ensinará que certezas são desnecessárias.

Para amar de verdade tenho que deixar todos os conceitos, esquecer as regras, carregar a mente vazia e o coração aquecido. Para amar de verdade tenho que ser leiga no assunto e ignorante na questão. Para amar de verdade tenho que desaprender todo o resto.

Obrigada por me ensinar tudo o que eu não sei!

Larissa Lopes
Enviado por Larissa Lopes em 13/06/2009
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