A TUA DOR
Dói, eu sei, dói hermeticamente.
Mas não vais, agora, cuspir em todos os crepúsculos, renegar
a corda lançada do porto.
Não vais jogar teus poemas ao primeiro cão que passar à tua porta.
Ou será que vais plagiar a Apassionata?
Claro que não vais mudar teu nome para Amacleto Sinfronio da paixão.
Aceso em éter, vais sacrificar todos os pássaros e queimar as borboletas e pisotear nos roseirais?
Deitarás por terra a Física Quântica e a Teoria Ondulatória, confundirás Einstein ou Heisenberg?
Vais encobrir as maiores misérias com as mais feias infâmias?
Inventarás um aparelho que inverta as horas, os séculos, a guilhotina e o beijo?
Saquearás os cofres da Matriz e violarás as sepulturas à meia-noite?
Não. Não farás nada disso.
Tudo passa e essa dor passará também; verás teu dia rodeado de luzes e de vésperas.
Conduzirás tua nau por mares nunca dantes navegados para buscar pontos, vírgulas exclamações e encontrar a deusa das tuas fontes.
És tão improvável como o amanhecer do dia seguinte.
( viajando em versos de Renault)