PARA OS AMIGOS POETAS

(em especial a Nelson Rodrigues Corrêa)

Ah! Belém do Pará! Que saudade de vocês, queridos amigos da Casa do Poeta! Deste amoroso sol da Amazônia!

Voltei daí, depois do Natal, com o gosto vivo das mangas-rosa, dos sorvetes feitos com frutos exóticos: murici, cupuaçu, açaí. Estão no palatino de minha memória, misturados ao agridoce da saudade e do suor de andar de corpo e pensamento, vendo as mangueiras dessa cidade de tantos verdes.

O que salva é estas conversas de pai pra filho que me fazem vivo, atuante no que gosto. São alvíssaras pra dizer que estamos a construir a alguns outros, em nome da Cultura, a poemia de ler e de estar no mais íntimo do ser.

Agradeço a tua confiança. Realmente dá prazer em fazer observações críticas ao teu trabalho, porque sei que tens talento e, com perseverança, crescerás muito. É necessária muita dedicação para este crescimento.

O que te falta é ler muito mais do que fazes hoje. Nota-se isto nos lapsos de linguagem, às vezes crassos em relação à grafia dos vocábulos. Ainda mais: o vocabulário está pobre, repetitivo. Peço que não repitas palavras num poema, principalmente verbos.

Muito cuidado com palavras polissilábicas. Elas sempre prejudicam o ritmo, que é o principal elemento, em poesia.

Percebo que não dominas a pontuação e este é um desafio a ser enfrentado. Quando tiveres dúvida, ao se tratar de versos, só coloca o ponto final. Deixa o leitor colocar a pontuação dentro de sua cabeça. Não errarás nunca.

Outra observação: usa sempre versos curtos, não escorregues em sentenças longas. Estas quebram o ritmo do poema.

Publico estas observações em minha escrivaninha, na intenção de que funcionem para os nossos confrades escribas do Recanto das Letras. Dou a contribuição para todos os amigos e aos que nem conheço – aqueles com quem nunca tive o prazer de falar.

E isto é tarefa para quem tem prazer em curtir o espiritual. Sei que nunca me basto, preciso aprender sempre. Mas há outros a quem posso ser útil. Percebo que este é o norte nesta quadra dos sessenta invernos.

Esta é uma das razões de estar no mundo: confraternizar e ajudar na construção do mistério do outro. Beber da água pura da irmandade...

– Do livro CONFESSIONÁRIO – Diálogos entre a Prosa e a Poesia, 2006.

http://www.recantodasletras.com.br/cartas/162000