O RIO GRANDE APOSTA NO FEDERALISMO

(ainda sob a estrela boieira, a voz agreste dos pampas e a rouquidão da invernia)

Estimado amigo Alfredo Bessow! Que Brasília esteja te fazendo bem. No mínimo, fazendo-te próspero...

Aceito o encargo proposto, desde que a tal coluna não tenha de ser somente em prosa (artigo, croniqueta, etc.) e possa comportar, também, o gênero literário Poesia, em suas espécies clássicas (soneto, sextilha, oitava, décima, etc.) e a de contemporaneidade formal (poema em versos brancos). Há tanta gente boa que precisa de vitrine.

O tal sítio será “criollo” (nativista) ou pra gente da cidade, os de “cola fina” como diz o pessoal do campo? O que desejo saber é qual será o público alvo e que linguagem será levada a eles?

Prevalece a orientação regionalista, como tem ocorrido com o teu esforço de popularização da música do Rio Grande nesse centro político do país?

Sabes que gosto de regionalismos, mas não aprovo nem ajo com os excessos bairristas, até porque, em termos de Rio Grande no caminho para Brasília, tá mais pra urubu do que pra colibri.

Perdemos em qualidade desde 1954, e, após, em dezoito anos de duração do Golpe de 64, com vários presidentes gaúchos sem o norte da vocação para a liberdade e democracia.

A hora, agora, é a do universalismo, da linguagem de unidade nacional, bairrismos à parte. Politicamente, é hora de ter muito cuidado até com a vontade de distribuir porrada, como sugeres em tua missiva virtual.

No atual momento, não tenho perfil pra ser um ferrenho combatente político.

Afinal, desde 1990, quando saí da Assembléia Constituinte, não tenho militado politicamente e, sim, naquilo que vejo como futuro para a Humanidade: o universalismo de idéias e práticas conseqüentes, tudo com destino à felicidade da criatura humana.

Imagino que possa atender ao convite fazendo uma coluna literária! E isto agradará ao leitor da Grande Rede?

Ainda mais num saite provindo de Brasília, com um nome prosaico como o "DE BRASÍLIA", onde está literalmente colocada a proveniência do "centro do poder político-institucional". Não seria melhor para a minha possível coluna títulos com certa explicitude como: “O RIO GRANDE LITERÁRIO” ou “O RIO GRANDE PENSA, LÊ E SABE DIZER” ?

Enfim, tu és o jornalista, eu sou apenas o escriba não diletante em processo de profissionalização.

O formato do veículo rápido (pela Web) deve ser formatado por ti, que és inteligente, lúcido, e que acreditas que posso servir à causa da polemização nas letras.

Mas será que eu tenho este perfil?

Quanto a honorários, por ora, não há a se falar. Quando estiveres com as burras mais pesadas, que tal pensar em remunerar aqueles burricos de carga que ajudam a construir a pirâmide? Mas isto é para o futuro. Por exemplo, que tal, a cada semestre, uma ida ao DF com uma semana às expensas das sinecuras brasilianas?

Que tal uma Oficinação de Poesia sob a égide do Senado Federal, Câmara, Universidades, Ministério da Cultura, Departamentos de cultura, locais, ou até CTG que deseje aprofundar estudos sobre o tradicionalismo gaúcho, poética, oratória e historiografia do Rio Grande?

Essa troca de ambientes é necessária para que se tenha uma idéia do que se pensa na capital republicana.

Ainda mais agora, que Brasília nunca mais será a mesma, após o episódio do "mensalão" e descartado o impeachment presidencial ! O Collor de Mello foi tocado pra fora do poder por muito menos!

Sei do tamanho dos meus chinelos. Não tenho medo dos desafios, mas sou detalhista, gosto de projetos delineados antes, pra não parecer tropeço.

Fico com o Senador Pinheiro Machado, ao sair do Parlamento do Império, entre a turba amotinada, reivindicante:

– Cocheiro, toca! Nem tão devagar que pareça afronta, nem tão rápido que pareça medo!

Pretendo ser sempre teu amigo, ajudarmo-nos mutuamente é a regra do fraterno, mas será que eu sou a bola da vez? Será que tenho o perfil que tu necessitas para firmar uma proposta desta envergadura?

O sítio será integrante de um portal? Acaso positivo, como se chamará este portal? Qual a proposta, o objetivo a ser atingido? O que ou a quem se quer inquietar?

Ou se quer mostrar apenas ao Brasil que o Estado que tem maior leitura per capita (1,3 livros/ano) ainda é o velho Rio Grande de guerra?

O getulista de 30, amarrando cavalos no obelisco, no Rio de Janeiro. O patrolador dos constitucionalistas paulistas de 32. O legalista de 61. O acachapado perdedor para os estados industrializados do centro do país por permanecer na matriz agropastoril até a década de noventa. O novamente perdedor nas políticas econômicas protecionistas para o Nordeste. O contristado espectador de políticas benéficas para a produção agrícola no Centro-oeste, tão próximo do poder central.

E, por fim, a perda de cerca de milhão de valorosos gaúchos, a oeste do território pátrio, no eixo da migração, das margens do Rio Uruguai até Rondônia e ao Acre tomado aos bolivianos por Plácido de Castro, forjado no aço pampiano.

Este é o Rio Grande sobre o qual queres que eu fale? Será esta a voz gaúcha que o Planalto terá de ouvir? Vês, a que processo mental estamos todos submetidos?

À mercê das dúvidas do colunista, da saudade do sentimento nacional e da certeza de que retomaremos o caminho do Brasil – a Pátria do Evangelho – , entretecemos a coluna inauguratória.

Por tudo isto e mais um pouco o Rio Grande faz profissão de fé e aposta no Federalismo.

– Do livro CONFESSIONÁRIO – Diálogos entre e a Prosa e a Poesia, 2006.

http://www.recantodasletras.com.br/cartas/160888