Sobre Escolhas e Significados
Todo mundo tem um dom. Mas há quem chame, a habilidade que nasce junto com a gente, de inclinação, vocação, direcionamento e outros tantos nomes que resultam sempre na mesma coisa. Para ser sincera, prefiro dom porque acho que existe algo de divino nessa palavra. Cada ser nasce com o dom de que precisa porque esse foi o jeito que Deus achou de colocar em nós um pedacinho dele.
Muitos o descobrem cedo, outros, tarde. Infelizmente alguns passam pela vida sem conhecer o traço de Deus que se manifesta neles. Quem tem um dom não tem medo de errar naquilo que faz. É algo espontâneo, inquieto, que pede para ser manifestado. Mas é preciso estar atento pois às vezes nossos dons são reprimidos, até ignorados e isto é muito perigoso. O dom nasce na alma do ser humano. Em algum lugar muito profundo e permanece durante toda a nossa existência.
A diferença está em como utilizamos nosso dom, na maioria das vezes é pelo resultado das nossas ações que somos lembrados depois que partimos. Conheço pessoas que quando crianças rabiscavam todas as paredes da casa e mais tarde se tornaram grandes artistas. Algumas, entre tantos brinquedos, preferiam instrumentos e depois, tornaram-se grandes músicos.
Acredito que meu dom seja a palavra escrita, afinal existem aqueles que nasceram para a oralidade. No início, eu era fascinada pelos seus contornos, formas e cores. Depois que descobri seus significados, entendi que as palavras eram, além de belas, muito poderosas.
Quando aprendi a ler me vi devorando livros, outdoors, placas, fachadas, rótulos e até as bulas de remédio, aí me dei conta de que este era meu mundo. Depois que aprendi a escrever, rabisquei paredes, as mesas, a terra e até os guardanapos. Com o tempo, surgiam aquelas vontades repentinas de escrever desesperadamente.
E era preciso escrever, seja em que fosse e com o que fosse, porque senão o pensamento se perdia para sempre. Descobri que aquilo que se chamava inspiração e descobri além disso, que eu tinha péssima memória. Cresci entre papéis, poemas e histórias. De grandes mentes e da minha própria, que eu ainda não conheço o tamanho.Na hora de escolher uma profissão, eu não poderia fazer outra coisa a não ser escrever e o jornalismo caiu como uma luva.
Vejo o jornalista como alguém que precisa ter intimidade com as palavras, deve conhecê-las bem e saber até que ponto são necessárias. É preciso ter tato para usá-las, sensibilidade suficiente para saber dizer o que se pensa e ousadia para trilhar caminhos além dos que já existem.
O desafio hoje é tocar a alma humana através de uma realidade desgastada pelas tragédias do mundo, pelas mazelas sociais, pelas crises econômicas e pelas catástrofes ambientais. O jornalismo é a ferramenta para a mudança. Se for feito de maneira construtiva poderá ser o agente transformador dessa sociedade que não sabe onde está nem aonde vai.