Meu poeta Márcio

Meu poeta Márcio:

Agora mesmo lí teu e mail. Agora mesmo estou aquí a querer te escrever, escrever o que? Sei lá, mas, preciso, imperioso que te escreva. E, de repente, me deu uma vontade louca de te guardar, de te proteger, de evitar teu contato com qualquer pessoa que te obrigue a crescer. Vontade de construir um castelo, e, dele te fazer prisioneiro, no intuito de conservar tua alma. Ou de fazer um enorme saco de presente, grande o suficiente para que caibas dentro. Faria um grande laço vermelho, e o endereçaria...Para os meninos e meninas do nordeste. Já pensou que presente? Poderias juntá-los debaixo de um umbuzeiro, de preferencia cheio de umbús, para escutarem teus poemas, tuas peças, que aliás poderiam ser encenados por eles, sobre os lajedos. Não se assuste, eles são ótimos atores, a vida os ensinou. Poderias te vestir de D.Quixote, o jumento seria fácil de ter, tua lança, um galho de xique-xique, ou até de Lampião, figura por demais conhecida e respeitada por eles. Um ou outro fariam sucesso, afinal,são similares.Meu poeta, saibas que sairaias de lá, mais criança ainda, mais poeta ainda, mais humano ainda,esbanjando ternura por todos os poros.

Queria ter tua alma, teu lirismo, teu frescor...Imagino que certamente alguém te balançou numa rede, quem sabe, numa varanda, entoando belas cantigas de ninar. Imagino que tivestes uma infância rica de poesia, de beijos e de afagos, e, que te serviu de alicerce para tua vida toda.Daí teus escritos...

Mas, meu poeta, também já fui criança, e, uma boa parte de mim, resiste a entender que esse tempo já vai bem longe...E, essa parte,

que vai envelhecer sem crescer, ainda gosta de comer açúcar cande,cavaco chinês e puxa-puxa.Ainda chora no circo na presença dos palhaços (como sonhei ser um), ainda se segura para não correr atrás das bandinhas de música tocando dobrados desafinados. É meu eu criança, que resiste em envelhecer. É minha criança que protejo de tudo e de todos, para que não se macule com os adultos.

Meu amigo, siga tua trilha, enternecendo todos a tua volta, até essa nordestina, aprendiz de poeta.

Me aceita como tua amiga, te prometo segui-lo, mesmo à distância, mas, quem sabe, o futuro nos ponha frente-a-frente e possamos jun tos escrever um poema, ou talvez, um circo sem pano.

Beijos da amiga distante,

Marly