" E se fez a luz no sopro da vida"
Sonhei contigo à noite passada! Caminhávamos por uma praia deserta e, curioso, tudo parecia claro demais, iluminado demais! Até o mar cujas ondas batiam em minhas pernas parecia possuir uma tonalidade diferenciada, talvez prata! Uma beleza irretocável e assustadora em sua pureza e perfeição!
Embora vestida, eu me sentia nua. Meus sentimentos tão evidenciados e expostos proporcionavam tal sensação de nudez! Não lembro de ser dominada pela vergonha; ao contrário, era a desejada liberdade que procurava! À distância observava teu caminhar, vindo na direção onde estava. Os olhos marejaram quando nossos olhares se fitaram.
Lembrei das descobertas feitas através da longa convivência e, em especial, na faculdade, e o adeus naquele novembro quando foste arrancado de nós em pleno vigor de seus 26 anos. Tão cheio de sonhos e uma brilhante realidade a se vislumbrar. Quem te conheceu jamais poderia esquecer alguém tão especial. Por tanto tempo jamais estivestes ausente dos meus pensamentos, ainda que não mencionasse teu nome. Revivo as coisas que me ensinastes e a tua capacidade de enxergar a vida sob prisma diferenciado. Quem privava da tua intimidade costumava chamar-te de anjo e lembro do dia em que falastes serem anjos não seres alados, celestes; mas, entidades dotadas de amor incondicional fazendo-as experimentar as dores do mundo de forma tão pujante que necessitavam deixar seu legado e partirem cedo, pois, corriam o risco de enlouquecer!
Há pessoas que duvidam da incondicionalidade de amar. Provastes o contrário! Cada gesto teu era dotado de reverente respeito ao próximo. Perfeito? Não! Não eras! Porém, como poucos possuía a capacidade de ao invés de julgar, escutar! Ao invés de recriminar, acolher sem questionar! De enxugar lágrimas, provocar sorrisos, não temer o sofrimento! Não recordo de ouvir lamentações de teus lábios. Eram feitos de sorrisos e como eles aceleravam o coração das menininhas incautas! Mas, com não se apaixonar por um anjo?
Enquanto, em meu sonho, ainda te aproximavas; cada lembrança assolava! Senti saudade e uma vontade enorme de ser abraçada por ti e dizer: irmão, eu te amo tanto! Mas, correstes em direção ao mar, sem receio algum das ondas fortes que exerciam fascínio e temor sobre minha pessoa. Estendestes a mão e disse: vem comigo! Vem, Má! Respondi apenas: não sei nadar, esquecestes? Com aquele sorriso aberto e brilhantes olhos verdes saístes da água e me aconchegou em teus braços. Fiquei silenciosa e em paz por vários segundos. Pedistes para que confiasse em ti que me levarias em segurança; contudo, prevaleceu a premência em permanecer! E eu te disse não! Beijaste-me a fronte e mais uma vez eu te observei partir, por entre lágrimas!
Quando levantei olhei teu retrato! Ah, Ronnie, meu doce irmão, ainda não sou anjo! Não posso trilhar os caminhos em que por ora segues! Talvez um dia entre contigo no mar, porém, na certeza de não me afogar e sim ser guiada à paz tão almejada!
Amo-te! Segue, meu anjo e obrigada pelos anos em que a mim ofertou tua adorada presença e perdão se quase nunca menciono o nome querido! A saudade ainda dói!