A minhas amigas no Dia das Mães
Meninas,
o dia é das mães, seria nosso? Sei não...
Por que a dúvida?
Porque desde a maternidade sinto crescer aqui dentro uma porção de dúvidas sobre a identidade que me acompanha.
Sempre fui filha, assim nasci e ouvi de tantos lábios o papel com que a vida me acolhia. Após um tempo de reconhecimento preliminar na linha de sucessão (heheheh...), natural aos que chegam depois, me reconheci por vezes irmã e ao longo da vida, e na medida que novos papéis íam surgindo, fui aprendendo a ser colega, depois amiga. Fui garota sem traumas ou sustos, adolesci sem aventuras cinematográficas ou rebeldias insurportáveis, mas havia algo não dito, era quase como se eu esperasse algo, que tardava e me irritava e muitas vezes me fazia sonhar, um dia, aliás num belo dia, eis que se apresenta a hora desconhecida e finalmente chegou a vez de ser mulher.
Idéia interessante que ao mesmo tempo me atiçava os sentidos e as emoções mais desconhecidas, enquanto a razão me servia os atos de cautela e pudor; achei muito complicado gerenciar tudo isso enquanto tentava entender melhor o papel novo que de mim se aproximava.
Do namoro ao casamento durou um milhão de idas e vindas, algumas bem vindas e outras, bem, nem tanto...; para mim quase uma insuportável eternidade, nem eu aguentava mais a confusão mental, a cobrança emocional e o vazio de um coração confuso, perdido entre tantas certezas do que eu acreditava ser o melhor a fazer.
Foi difícil, mas hoje acredito ter sido um tempo de uma fertilidade de vivência sem precedentes, incríve, mas deve ser o que muita gente chama de amadurecer.
Largar amarras e memórias, tristezas e saudades rumo ao convite do novo, que ensaia sorriso de felicidade num carnaval de emoções exigindo um pouco de sanidade foi tarefa para a qual jamais me prepararam, sequer me avisaram que seria assim.
A gente enfrenta e no final aguenta, o desafio do medo na busca do novo, é isso, a vida está pedindo que se cresça e apareça e não dá pra fazer isso mais ou menos, pela metade, segurando na saia da mãe. A gente se atira e vai viver. E eu fui...
Assim como cada uma de vocês.
A idéia do casamento tinha uma aura do quero-não-quero, ainda-não, nem-vai-rolar, o tempo passava por mim e a identidade, antes quieta e segura, sem me avisar aguardava ansiosa a transformação por vir. Eu queria ser Eu, mas queria ser mais, queria ser muitas, queria entender como se faz para ser tudo isso e ser uma só, e foi quando a coisa aconteceu: virei mãe!
Passei muito tempo olhando a barriga crescer, depois mexer, depois doer e depois abrir. E saiu dali umas coisinhas que era como se fosse uma amostra grátis de mim, será que ía vingar? Que momento irresponsável esse da maternidade que chega e põe uma vida de verdade em nossos braços, se pensarmos bem é tão preciso e delicado, é tão arriscado biologicamente, tudo pode acontecer pra dar errado ou já vir com defeito de fabricação e a gente tá ali, 24hs no ar com um sorriso bobo no rosto a admirar a cria que nos parece nem vai crescer de tão linda que é, e assim se eternizará em nosso colo para sempre! Somos só sorriso e coração enquanto o corpo dá tudo de si pra vencer os obstáculos da chegada, e que chegada! A gente só se apercebe mesmo da grande aventura e seus perigos anos mais tarde quando começa a contabilizar agradecida de todos os perigos que Deus os livrou.
É uma estrada, que ao contrário de tantas outras, uma vez iniciada se eterniza dentro de nós. E tantos são os atalhos quantos os rebentos que ousamos gerar, cada um nos leva a destinos inacreditavelmente únicos e definitivamente belos, nos enchemos de um egoísmo positivo (como gosto de chamar), me dá orgulho de saber que estou ali também, naquele ser independente de mim, em partes e ao todo, sou eu nele, para sempre dentro de sua história.
Aí eu volto pra cá, pro dia das mães e me pego pensando naquela que me pos aqui a pensar em mim; e a figura de minha mãe se põe ao meu lado, sou mãe e ainda filha, tenho filhas que me reconhecem mãe, e tenho mãe que me reconhece filha....
A busca da identidade se aquece e enriquece na medida que vou penetrando em cada uma das dimensões de mim, e delas passo a orientar nas minhas filhas e na minha mãe, quem realmente sou, fui e quero ser, alguém que precisa destas referências para continuar o processo de criação que se renova em cada geração e cujo amor por quem me doou o sopro e para quem soprei a vida jamais se esgota e para sempre servirá de rumo quando uma de nós por força da idade e suas pagas, por ventura esqueça de quem um dia foi.
No fundo o que sei neste momento, é que só compreendi o que é ser filha quando passei a ser mãe, e sendo mãe aprendi mais profundamente o que represento para mim mesma.
Rendo-me pois às homenagens do dia e reverencio a todas vocês amigas, que junto comigo ousaram enfrentar a missão digna apenas Daquele que nos repassou em concessão o direito da criação da vida.
Por isso acho que este deveria também ser o dia da filha, para que eu não seja meio intrusa no dia das Mães!
A vocês com adminração e carinho por sua coragem e história, Feliz dia das Mães!
Anadijk
Houten, 10/maio/2009