Pausa para suspiro

Uma sala vazia, penumbra noturna, junção do término de um dia e início de outro.

Meu caro,

lanço as palavras ao vento que as carrega: vão como decidir a Fortuna (já não peço ou espero) e talvez seja inútil ou um erro expressá-las, o que não faz diferença agora. As pessoas preocupam-se demais com os erros e eu os cometo segura de que devo porque sinto.

Minhas palavras é provável que não cheguem a ti; e, se chegassem? acaso mudariam algo? acaso têm elas esse poder? As pessoas afirmam que agem de acordo com "as palavras" que não foram por si proferidas, mas arbitram sempre, decidem sempre e com base em si próprias antes de qualquer coisa.

Não, não adiantariam porque meras palavras só servem para aliviar-nos, pronuncio apenas para me livrar, como se suspirasse. Retidas nesse espaço, não servem para nada, nada. Dissipadas pelo vento, são murmúrios subaudíveis que a sensibilidade pode perceber sutilmente sem compreender, não encantam, não transformam.

Não causam o mínimo impacto sequer a um instante... nulas... mandaram-me calar... todos calam...

E eu canto, sigo expressando as coisas vãs e sem sentido, como a última a aclamar o tempo perdido com o que de nada serve, sem saber onde estás, sem saber e não importa. Encadeio essas letras tolas nessas sentenças vagas que não dizem e só escondem tudo quanto haveria por ser dito embora não possa. Permanece oculto, sob essas frases medíocres, tudo que há de sublime, todo o sentido que escondi porque foi preciso, todo o indizível não revelado...

Clarissa de Baumont
Enviado por Clarissa de Baumont em 09/05/2009
Reeditado em 11/05/2009
Código do texto: T1584101
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