CONSEGUINDO A MINHA VIDA DE VOLTA

“Vamos tentar viver fazendo o menos mal possível. Talvez seja a única sabedoria ao nosso alcance.” (José Saramago)

CARTA A ANTÔNIO MARIA SANTIAGO CABAL

Meu Caro Antônio Maria,

Eu acabo de ler o seu livro, seu relato autobiográfico, sua essência humana. Misturei sentimentos vários durante a leitura, o que pode ser natural num romance, num livro de poemas, numa biografia, enfim, num livro comum. A força das descrições, sem preocupação com estilo, com forma, simplesmente a catarse pessoal é que mais impressiona. Difícil missão. A gente tende a colocar como enfeite um pouco de vaidade pessoal nos escritos. Nenhum demérito. Apenas objetivos diferentes. O seu, na minha humilde opinião, foi cumprido com todas as letras; isso mesmo, em cada letra juntada que formou palavra, que formou frase, que exprimiu sentença, que transmitiu sentido e afetou sentimentos.

Deu vontade às vezes de abandonar a leitura: raiva. Deu vontade de ter você por perto para ir te olhando com comiseração. Deu vontade, estando você por perto, de me emocionar junto, imaginando o quanto de angústia foi reviver toda uma vida passando-a para o leitor. O que pode ter sido para você uma espécie de tratamento de choque, uma lavagem na alma, uma expurgação de aflições, é para nós, leitores, humanos e falíveis, um lenitivo, um bálsamo e acima de tudo, reflexão. Muita reflexão acerca dos significados da existência humana. Desse inato instinto gregário que possuímos, dessa necessidade do outro para dar à nossa própria vida significação que valha a pena, de fato. No final, deu vontade mesmo foi de te abraçar e olhar nos seus olhos tão sinceros estampados na fotografia da contra capa.

Ah, como desejamos que a superação humana seja tão ricamente acabada! Tantos tombos, tantos motivos para desistir de tudo, para abandonar o barco e ir para as profundezas, não te esmoreceram jamais. Mais importante ainda é, a despeito de tudo que conspirou contra a sua ânsia de viver, tantas mazelas, tantas recaídas quase insuperáveis ( é assim que a gente sente lendo o livro), você tirou disso lições incomparáveis e as transmitiu (mesmo que não fosse essa a intenção). Inevitável não sermos embalados pelo calor de sua luta incessante, às vezes insana contra a morte e, paradoxalmente em direção a ela.

O que suscita o livro é uma vontade de que ele fosse lido por quantos e quantas for possível, tendo ou não problemas correlatos. Assim como faz a mídia grande com os supostos heróis e heroínas efêmeras ,mas vistosos e exemplares para muita gente no nosso meio, precisamos nós, cidadãos comuns, fazer com nossos pares, que são na verdade nossos verdadeiros espelhos, nossa razão de estar vivendo, lutando para justificar nossas vidas.

Eu já o conheço. Considero-o um quase irmão mais velho, quem sabe um pai? Afinal temos uma diferença de quase uma geração, 20 anos. Mas considero, sobretudo, um amigo, se assim me permitir. Recomendo que todos quantos possam ter acesso ao seu livro que leiam-no. Não com intuito de comprá-lo para aumentar suas vendas, você não precisa disso. Para aumentar ainda mais sua estima, baseada no reconhecimento de determinação, de garra, de um não-conformismo e de olhos e coração que buscam para sempre não ser apenas mais um nessa multidão planetária. Nos olhos, a gente os vê absurdamente brilhantes, no coração a gente sente pulsar, mesmo estando de longe.

Um afetuoso e fraterno abraço.

José Cláudio

SOBRE O LIVRO:

“CONSEGUINDO A MINHA VIDA DE VOLTA”

De (ANTÔNIO MARIA SANTIAGO CABRAL)

josé cláudio Cacá
Enviado por josé cláudio Cacá em 07/05/2009
Reeditado em 07/05/2009
Código do texto: T1581133