Mukanda a uma escritora
Querida VanOr
São trabalhosos os meus dias aqui, no sudeste da Ásia, amparado pela força da minha linda e abnegada companheirinha de tantas décadas, que jamais permite que eu deixe, como em não poucos momentos tenho vontade, cair a peteca, abandonar tudo de vez e retornar não sei bem para onde...
As doze sólidas horas de trabalho diário de segunda a sábado em ambiente densamente carregado de pânico, porra-louquismo e altos teores de essência de sovaco da tchurma de indianos que aqui na sala destilam seus condimentados temperos pelos poros, incluem os sofridos quilômetros de pedaladas e o somatório das incontáveis subidas e descidas em alturas de um prédio de dez andares sob sol inclemente.
Pouco sobra, portanto, para explorar esta prodigiosa, limpa, organizada e segura terra, mais limpa, segura e organizada que qualquer capital do chamado primeiro mundo. Fotografo avidamente tudo o que vejo e inspiro profundamente a surpreendente concentração de cultura, porque oportunidade igual eu sei que não terei nos outonos que me restam.
Sei que não deveria, mas queixo-me, sim, das doloridas pernas, espinhela e demais mazelas de velho condor. Resisto e insisto, porém, porque, se de homem de ação que sempre fui ao ócio me abandonar, o cavaleiro da foice decerto sobre mim vai galopar.
Aliás, em relação à idade, muita coisa eu já aprendi, e.g., a olhar-me no espelho e raspar os grossos pentelhos que nascem em torno das minhas orelhas, sem que me ache em plena metamorfose kafkiana, morto de medo de acordar na pele de um cão, ou de outro qualquer animal felpudo. Aprendi também a ignorar do espelho, o feio reflexo da minha protuberante e despencada nudez! Isso tudo, minha querida, sem recorrer a nenhum shrink caro, abelhudo, freudiano metido a besta!
Mas das minhas dores, a maior é a falta de tempo para exercitar minha paixão pela poesia, banhar-me voluptuosamente nas sopas de letrinhas, espraiar-me sobre as areias da prosa talentosa de talentosa gente como você. Mas eu sinto que ainda algum dia eu vou conseguir, para gáudio do meu glutão espírito.
Não me alongo mais, mas prometo que esta minha mukanda terá continuidade, não digo ad eternum, porque exagero tem limite! Ou talvez não tenha, sabe-se lá...
Teu amigo e admirador,
Nelsinho (Ou será Luis C Nelson?)
Blog da VanOr: http://vanessaornella.blogspot.com/
Querida VanOr
São trabalhosos os meus dias aqui, no sudeste da Ásia, amparado pela força da minha linda e abnegada companheirinha de tantas décadas, que jamais permite que eu deixe, como em não poucos momentos tenho vontade, cair a peteca, abandonar tudo de vez e retornar não sei bem para onde...
As doze sólidas horas de trabalho diário de segunda a sábado em ambiente densamente carregado de pânico, porra-louquismo e altos teores de essência de sovaco da tchurma de indianos que aqui na sala destilam seus condimentados temperos pelos poros, incluem os sofridos quilômetros de pedaladas e o somatório das incontáveis subidas e descidas em alturas de um prédio de dez andares sob sol inclemente.
Pouco sobra, portanto, para explorar esta prodigiosa, limpa, organizada e segura terra, mais limpa, segura e organizada que qualquer capital do chamado primeiro mundo. Fotografo avidamente tudo o que vejo e inspiro profundamente a surpreendente concentração de cultura, porque oportunidade igual eu sei que não terei nos outonos que me restam.
Sei que não deveria, mas queixo-me, sim, das doloridas pernas, espinhela e demais mazelas de velho condor. Resisto e insisto, porém, porque, se de homem de ação que sempre fui ao ócio me abandonar, o cavaleiro da foice decerto sobre mim vai galopar.
Aliás, em relação à idade, muita coisa eu já aprendi, e.g., a olhar-me no espelho e raspar os grossos pentelhos que nascem em torno das minhas orelhas, sem que me ache em plena metamorfose kafkiana, morto de medo de acordar na pele de um cão, ou de outro qualquer animal felpudo. Aprendi também a ignorar do espelho, o feio reflexo da minha protuberante e despencada nudez! Isso tudo, minha querida, sem recorrer a nenhum shrink caro, abelhudo, freudiano metido a besta!
Mas das minhas dores, a maior é a falta de tempo para exercitar minha paixão pela poesia, banhar-me voluptuosamente nas sopas de letrinhas, espraiar-me sobre as areias da prosa talentosa de talentosa gente como você. Mas eu sinto que ainda algum dia eu vou conseguir, para gáudio do meu glutão espírito.
Não me alongo mais, mas prometo que esta minha mukanda terá continuidade, não digo ad eternum, porque exagero tem limite! Ou talvez não tenha, sabe-se lá...
Teu amigo e admirador,
Nelsinho (Ou será Luis C Nelson?)
Blog da VanOr: http://vanessaornella.blogspot.com/