Quando fala o coração- III

Estou indo embora. Então não me olhe nos olhos, não me pegue pela mão, não me peça para recomeçar. Esta cena já se repetiu algumas vezes mas esta será a última. Eu que nunca prometi nada, escolhi esta para cumprir.

Irei sem despedidas, sem gestos involuntários, sem últimas carícias, sem beijos de adeus. Partirei numa noite estrelada para que me procures no meio da imensidão e nada encontre. Irei descalça para que não identifiques as marcas que deixarei. Não quero ser seguida.

Não levarei nada comigo. Dispenso o peso desnecessário daquilo que não posso carregar. Deixo as roupas, alguns sonhos , sua lembrança. Não escreverei meu novo endereço num pedaço de papel para que não o encontres em cima da mesa. Sabe como é, deixar a porta entreaberta é pedir para voltar e isso eu não quero.

Sei que não tentarás me impedir. Talvez diga algo sobre possíveis arrependimentos mas não me pedirá para que eu fique. Tu que se julgas tão paciente não sabe o quanto perdes por evitar insanidade ao extremo.

Se por um minuto esquecesses a incerteza do amanhã e me tomasse nos braços, eu me entregaria. Das vezes que te enfrentei, tu hesitaste quase sempre. Se mesmo assim não me perseguistes como uma sombra, eu já havia desistido há bastante tempo.

Espero que o tempo faça sua parte. Que me aponte novos rumos, novas direções. Que me apresente novos desafios e novas esperanças. Hoje estou de partida porque pior do que uma dolorosa certeza é uma eterna dúvida .

Denisia de Oliveira
Enviado por Denisia de Oliveira em 28/04/2009
Código do texto: T1564164
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