Pai...

Hoje simplesmente começo a escrever te, não sei a quanto tempo já tinha vontade de o fazer.... Talvez por medo, sensação de que algo de ruim pudesse acontecer... Mas a distância, as novas experiências, a observação do mundo, o MEU MUNDO, e coloque-me a pensar, de facto fazendo uma retrospectiva, e a analisar a relação entre nossas vidas, e descobri que és apenas humano, a partir de então compreendi o Teu diferente, naquele momento tirei de facto, o rótulo, o fardo de pai-heroi, super-homem, sabe... O Pai com o qual sempre sonhei..., aquele capaz de ser carinhoso, proporcionar aconchego, palavras amigas, apoio, zelo, são situações as quais, desculpa mas, não senti em Ti, tipo imaginar um PAI MODELO, aqueles que somente existem em conto de fadas e ou novelas...

Por vezes ficava a observar os pais das minhas amigas , e ingenuamente perguntava-me, por que não posso ter uma relação assim, pai e filha...

Mas ao transpor-me ao passado, vejo a falta de sensibilidade e acessibilidade, tato, a inabilidade, para demonstrar qualquer tipo de afecto, daí termos criado entre nós esta barreira, este muro que realmente deixou te incontactável, inatingível...

Sabe lembrei-me de quando comecei a trabalhar e com o meu primeiro ordenado comprei te um disco de vinil, daqueles que havia escutado comentares que gostavas, e quando entreguei te, disseste que não era o que queria, apenas estava a querer proporcionar te algo, tão pequeno, que tornou-se um grande marco em minha memória... entre outros... E recordando todos estes factos, lembranças da infância, adolescência, tento encontrar em minha memória uma explicação para o paradoxo destes sentimentos, rompe então o paradigma criado, acredito que a distância que encontro-me dos meus filhos fez-me adoptar esta postura analítica...

Sei que somos diferentes em todos âmbitos e depois desta bagatela de factos, factores, análises, observações e lembranças, simplesmente respeito o teu ser diferente....