À MÃE DE UM FILHO DA P...
Prezada Senhora,
Há tempos quero escrever-lhe e, como estamos comemorando seu dia, finalmente realizo meu desejo. A senhora certamente vai bem, apesar de tantas agressões verbais. Lembra aquele seu filho, o Cláudio, árbitro de futebol? Pois desde menino era meio levado, acertou um botocaço na janela da vizinha que foi preciso pagar, a cada pelada na rua vinha reclamação de todo lado. A tudo a senhora suportava. Afinal foram os nove meses de geração, um ano amamentando, depois os cuidados para não deixá-lo fugir, anos de escola, alguns bilhetes chamando a senhora para o colégio... Tudo a senhora agüentou, o amor fala alto e a paciência de uma mãe é infindável. Mas um dia a senhora saiu do sério, foi prá briga, acabou na polícia e por pouco não deu processo. O filho da vizinha, colega do Cláudio, o Beriva, chamou-o de "filho da puta". Tudo esclarecido ele disse que isso apenas escapuliu; a senhora acabou fazendo as pazes e o Beri prometeu com juras nunca mais repetir a palavra.
O seu menino cresceu, virou homem e em vez de jogador, como discretamente a senhora desejava, tornou-se árbitro de futebol. Coitada da senhora! Milhares de bocas a insultam a cada jogo e mesmo que não cometa nenhum engano ( todos os árbitros se enganam seguidamente) ele é insultado por vencedores e ainda mais pelos perdedores. Quando acontece empate, então é um coro do estádio inteiro: "filho da puuuuutttta". Como a senhora nunca foi e nunca será aquela depreciação que se dá às mulheres que amam sem muita escolha, e não pode levar toda a turba à delegacia, simplesmente tapa os ouvidos com algodão quando assiste seu filho apitar e fica com o coração na mão no final do jogo, só respirando aliviada quando o vê são e salvo dentro de casa.
Isso que vou lhe dizer agora seu filho queria falar, mas ele sente tanta vergonha de fazê-lo porque sabe de sua íntima revolta contra a má educação popular. Senhora, o Cláudio quer pedir-lhe perdão por cada insulto dos outros e garante-lhe que pelo menos um domingo a cada ano ele não aceita apitar jogo: no Dia das Mães.
Então amanhã a senhora não precisa de algodão nos ouvidos e nem assistir jogo. Seu filho vai ficar fazendo-lhe companhia. A noiva dele também vem. E segure-se, ela está grávida, a futura mãe de outro filho da puta, a não ser que a criança seja menina, ou se menino, não seguir a profissão do pai.
Encerro esta carta com um grande abraço.
Seu ex-esposo, Carlos Cardeal
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Obs. Nomes fictícios, qualquer semelhança é mera coincidência.
Prezada Senhora,
Há tempos quero escrever-lhe e, como estamos comemorando seu dia, finalmente realizo meu desejo. A senhora certamente vai bem, apesar de tantas agressões verbais. Lembra aquele seu filho, o Cláudio, árbitro de futebol? Pois desde menino era meio levado, acertou um botocaço na janela da vizinha que foi preciso pagar, a cada pelada na rua vinha reclamação de todo lado. A tudo a senhora suportava. Afinal foram os nove meses de geração, um ano amamentando, depois os cuidados para não deixá-lo fugir, anos de escola, alguns bilhetes chamando a senhora para o colégio... Tudo a senhora agüentou, o amor fala alto e a paciência de uma mãe é infindável. Mas um dia a senhora saiu do sério, foi prá briga, acabou na polícia e por pouco não deu processo. O filho da vizinha, colega do Cláudio, o Beriva, chamou-o de "filho da puta". Tudo esclarecido ele disse que isso apenas escapuliu; a senhora acabou fazendo as pazes e o Beri prometeu com juras nunca mais repetir a palavra.
O seu menino cresceu, virou homem e em vez de jogador, como discretamente a senhora desejava, tornou-se árbitro de futebol. Coitada da senhora! Milhares de bocas a insultam a cada jogo e mesmo que não cometa nenhum engano ( todos os árbitros se enganam seguidamente) ele é insultado por vencedores e ainda mais pelos perdedores. Quando acontece empate, então é um coro do estádio inteiro: "filho da puuuuutttta". Como a senhora nunca foi e nunca será aquela depreciação que se dá às mulheres que amam sem muita escolha, e não pode levar toda a turba à delegacia, simplesmente tapa os ouvidos com algodão quando assiste seu filho apitar e fica com o coração na mão no final do jogo, só respirando aliviada quando o vê são e salvo dentro de casa.
Isso que vou lhe dizer agora seu filho queria falar, mas ele sente tanta vergonha de fazê-lo porque sabe de sua íntima revolta contra a má educação popular. Senhora, o Cláudio quer pedir-lhe perdão por cada insulto dos outros e garante-lhe que pelo menos um domingo a cada ano ele não aceita apitar jogo: no Dia das Mães.
Então amanhã a senhora não precisa de algodão nos ouvidos e nem assistir jogo. Seu filho vai ficar fazendo-lhe companhia. A noiva dele também vem. E segure-se, ela está grávida, a futura mãe de outro filho da puta, a não ser que a criança seja menina, ou se menino, não seguir a profissão do pai.
Encerro esta carta com um grande abraço.
Seu ex-esposo, Carlos Cardeal
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Obs. Nomes fictícios, qualquer semelhança é mera coincidência.