AO MEU PAI NO MEU ANIVERSÁRIO

Ao meu Pai no meu aniversário

Agora são exatamente 8:54 am.

Acho que foi numa manhã do dia 16 de abril que nasci. Portanto, hoje seria meu aniversário.

Eu deitei ontem oca, sem sentir muita coisa, para não dizer NADA.

Despedi-me de meu Coração, pedindo para que ele fosse o primeiro a me desejar Feliz Aniversário e ele me despertou a meia noite.

Fiquei contente e depois, outros queridos foram se lembrando de mim.

Recebi uma ligação de longa distancia e pedi a esta pessoa que comemorasse por mim e acredito que ela tenha o feito, afinal, ela estava no barzinho tomando cachacinha com carne. Delicia!

Adormeci.

As sete, meu Coração me desperta.

Eu sorri.

Arrumei-me e fui trabalhar.

Toda hora havia gente me perguntando:

_ Vai ter alguma comemoração?

Eu depressiva, respondia: Não!

Na verdade nunca liguei para essas coisas.

Como pode ver Pai, sou um brinquedo baratíssimo. Acho que nunca te pedi muito, nunca te fiz passar vergonha e tento fazer o que posso para que o Senhor tenha orgulho de mim, mas nem isso você parece se importar.

Estou chorando agora sabia? De novo, para dizer a verdade.

Não é sensacionalismo ou dramaticidade não. Infelizmente sou artista e nós somos muito emotivos, com uma sensibilidade mais aguçada do que uma pessoa comum.

Quando avistei o Senhor lá na esquina, não pensei em nada, a não ser te pedir calada, um abraço, mesmo sabendo que você não se lembraria dessa data, mas isso não me deixou triste em vê-lo.

Convidei-te para sentar, te ofereci um café na qual você recusou e fomos conversar. Mesmo tendo pouco assunto para falar, porque você sempre na defensiva, acha que eu iria pedir-te dinheiro. Maldito dinheiro esse que me faz chorar.

Perguntei-te se tinha lido meu e-mail falando da universidade e você disse que não. Mesmo eu não acreditando, resolvi falar pessoalmente, te pedindo ajuda para eu ser alguém.

Você com suas infinitas questões capitalistas e um tanto cético, conseguiu arrancar-me lágrimas de soluçar.

Pai, o Senhor conseguiu estragar meu dia. Desculpe-me a sinceridade.

Sabe, engraçado como eu tenho acreditado em mim, por ver em meus amigos e até desconhecidos, o valor que eles dão para as coisas que faço e que falo. Se você pelo ao menos não tivesse esse poder de nos fazer quebrantar, você poderia ver a pessoa incrível que sou. Sim, eu sou legal!

Hoje estou fazendo 24 anos e nada tenho, nada sou, talvez continue sendo NADA o resto da vida, mas desculpe-me, não darei este gostinho para o Senhor.

Uma vez falei para um primo que tenho apoio de amigos e simpatizantes, mas como santo de casa não faz milagres, não tenho muito apoio familiar. Quase ninguém acredita em mim ou me dá créditos, e talvez seja isso que me faz levantar todo dia, ao final de uma depressão, porque eu acredito em mim e isso me tem bastado.

Te falei que cada centavos que gastastes comigo foi saudavelmente usufruído e valorizado. Como o Senhor mesmo disse, eu levei a serio as aulas de inglês (muito obrigada por ter pago os 5 anos de curso), as aulas de violão, que hoje já até toco outros instrumentos, obrigada pelo teto em que vivo e pela feira do dia-a-dia.

Eu só queria uma ajudinha para entrar na faculdade e me manter lá, porque realmente não consigo ainda arcar com todas as despesas, mas não; o Senhor tinha que jogar na minha cara que as coisas são difíceis mesmo, que gastar três anos de dinheiro para depois ganhar só 800 reais dando aulas não valeria a pena.

De novo a questão do dinheiro. Mas acontece PAI (as lagrimas estão secando agora e já sinto raiva) que nós com diploma de faculdade já fica complicado, quem dirá sem?!

Teria sido muito mais simples se o Senhor tivesse falado que não tinha condições para me ajudar, que amigavelmente eu entenderia. Sou compreensiva por demais Pai, acredite. Mas NÃO! Você só me passou a imprensão de que não mereço ajuda tua, porque tudo que faço não iria te trazer dinheiro de volta, e talvez não vá. Mas tudo que eu queria mesmo, era apenas que o Senhor sentisse orgulho de mim...

Gabriella Gilmore
Enviado por Gabriella Gilmore em 16/04/2009
Reeditado em 25/04/2009
Código do texto: T1542308
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