João Pessoa, 07 de Dezembro de 2006

Caríssimo*,

Ontem, lembrei de como eram bons àqueles dias. Parecia que nós éramos anjos, e tínhamos asas para voar livres na imensidão do céu. Eram cheios de calma aqueles momentos. Chego a sentir a boa sensação que outrora senti contigo. A gente não andava de mãos dadas pela rua, mas também nem era preciso, bastava olhar pro nosso rosto para perceberem que estávamos com todos os laços atados de energias.

Tomávamos sorvete e quase sempre pedíamos o mesmo sabor. E quando caía a tarde íamos ver o mar. Você deitava a cabeça no meu colo, eu te olhava ternamente e começávamos a conversar coisas banais ouvindo o vai e vem das ondas até o sol se pôr por completo no horizonte.

Acordava no meio da noite só pra te ver dormir nos meus braços e constarar que aquele momento era mesmo verdadeiro. Sim, parecia uma criança suspirando calmamente. Velei teu sono e silenciei teu ressonar com um beijo bem de leve pra não te acordar e disse baixinho, coisas de amor no teu ouvido. Desejei saber dos teus sonhos e, mais ainda, desejei intimamente, que todos os dias fossem assim. Todo dia! Acariciei teus cabelos e voltei a dormir para acordar com um sorriso teu numa expressão bem preguiçosa dizendo ‘bom dia’ e trazendo um prato de morangos fresquinhos.

Eu pensei que pudesse esquecer tudo isso, mas essas coisas tuas ficaram enraizadas no meu peito. Teus anseios, tuas manias, teu timbre e teu perfume me consomem sempre, e chegam a doer vezenquando. Agora, sofro por ter que escrever sobre ti e pôr os verbos no pretérito; por tu quereres algo que eu não posso dar muito menos ser; por ainda carregar o sentimento de impotência gritando feito louco dentro de mim; por seres quem és e eu não poder está do teu lado para vivenciar teus momentos contigo; por eu estar aqui silenciando meus sentimentos para não te assustar; por estar tentando ser tua amiga e assim não ter tua luz longe dos meus olhos.

Agora está faltando luz aqui na minha casa, literalmente - sendo que dentro de mim ela já falta há alguns dias - e quando isso acontece não há nada para fazer que camufle a tua ausência. Por isso corri para este papel...

Leve consigo um beijo e muitas saudades,

Íris Helena.

*nome do destinatário preservado.