Cartas (1)
Em abril de 2007, quando retornei de Valência, na Espanha, após um estágio acadêmico, recebi a carta de uma amiga que havia feito a pesquisa na área de saúde, em Barcelona. Em um trecho, consta:
"Vim para Europa com uma missão. Não se tratava de redigir artigo científico, tampouco conhecer o sistema de saúde espanhol. Estes foram os pretextos. A verdadeira missão era me conhecer e poder me melhorar e desenvolver alguns sentimentos, ora perdidos, ora esquecidos.
"Mas, obviamente esta missão eu não poderia desenvolvê-la sozinha. Era necessário estabelecer relações interpessoais, e para tal foi imprescindível que a providência Divina me colocasse algumas pessoas no meu caminho. E você foi uma delas."
Emocionado, respondi polidamente. Eis alguns trechos da minha carta:
"Muito obrigado pelas lindas palavras que me enviou. Muito mais do que na memória, guardarei no meu coração os momentos que vivemos aqui.
"Suas palavras sobre sua missão me motivaram a responder-lhe falando da minha. Sorte nossa que conseguimos evoluir pelo menos a este ponto de compreender o significado de tudo que acontece na nossa vida, não?
"Concordo plenamente com você que não viemos à Europa para qualquer que seja o trabalho científico, acadêmico ou profissional. Viemos com uma tarefa muito mais “humana”! Por isso foi preciso encontrar as pessoas, visitar os lugares, ter contato com culturas e costumes chocantes para a nossa realidade anterior. Digo isso, porque a realidade que encontraremos à nossa frente no Brasil será completamente diferente. Tudo continua exatamente igual, nós é que mudamos. A transformação gradual interna resultou na mudança aparente externa. Os encontros levaram a observações, os contatos motivaram as conclusões, e as reflexões produziram novos comportamentos e atitudes.
"Desta forma, independentemente do quanto rendeu nosso trabalho, se produzimos um artigo ou se cumprimos a proposta enviada ao programa, sinto que cumprimos totalmente nossas missões aqui. Se não fosse o pretexto do estágio acadêmico, não teríamos percebido a necessidade dessa fase na nossa vida. Por este motivo, tenho muita gratidão pelo programa.
"Aprendi com o meu mestre da vida, Daisaku Ikeda, a jamais desistir diante de qualquer circunstância: 'A vida é uma luta. Aqueles que continuam a arder com o espírito de luta continuarão a triunfar. A presença desse espírito em essência indica a vitória do indivíduo como ser humano. Aqueles que abandonam o espírito de luta condenam a si próprios à derrota.'"