Carta sobre os pais
meu pai faleceu no dia 27 de setembro, exatamente 25 dias após meu aniversário... recebi este e-mail, de um amigo... acho que ele pode dizer muita coisa... quando não há nada a dizer.
Sobre o que eu queria comentar com você foi o que a Atik disse uma vez lá pra gente e eu achei o máximo, (eu gosto muito dela e da aula dela). Mas permita-me contar, foi mais ou menos assim: ela pediu desculpas no início da aula pois precisaria deixar o celular ligado porque a mãe da Rose havia falecido, ela já estava bem velhinha, já estava doente há um certo tempo então não chegou a ser um choque, era algo mais ou menos esperado. Na vida vamos nos acostumando a ouvir a história que nossos pais nos contam, eles são os responsáveis por manter muitas das tradições familiares, de cuidar para que deixem de fato algum legado sobre a face da terra e nós quando crianças ou adolescentes nos encantamos com tudo aquilo. Eis que de repente se tem 40 anos ou mais e nós nos vemos na função que nossos pais ocuparam por décadas e décadas, ficando sob nossa responsabilidade a transmissão dos valores em que acreditamos. Quando vemos, nós é que passamos a ser responsáveis pela condução da família, os pais criam a gente para o mundo e em segundo lugar para que nós os enterremos e sigamos adiante. É duro mas precisa ser assim, quando meu pai morreu eu pensei em tanta coisa pra me vingar do "cara lá de cima". Bebi, blasfemei, usei o nome em vão, xinguei, desafiei etc etc etc... me ajudou a amenizar o trauma da forma como o maldito tirou ele de mim mas às vezes me conforta pensar que cada um tem o que merece. Ele fumou e bebeu a vida toda, falava tanto em estudo mas ele mesmo não estudou nada então acabou construindo sua própria ruína. Agora eu, minha mãe e meus irmãos continuamos remando, agora com um a menos, vamos ver até onde isso vai dar. A gente só conversava porcarias no MSN, papo melancólico de dois manés que não tinham mulher. Um deles já tem uma mulher especial para chamar de sua. Para fazer companhia, conversar, ouvir, estar junto e assim por diante. Fiquei muito feliz quando descobri Zé! Parabéns! Aos poucos as coisas vão se ajeitando, lamento é claro que você tenha perdido o seu pai tão cedo mas fui conversar com uma freira e ela me falou que 50 anos foi o tempo que deus deu para o meu pai (outra coisa que me confortou um pouco). São tolices mas numa horas dessas ajuda viu... depois a gente cai mesmo na real e manda deus praquele lugar. Mas tamos aí levando e vendo o que acontece, você se formará antes de mim, eu já fico triste de saber que pessoas legais como você, o Geraldo, o Jonatas e mais alguns vão embora e "me deixar"... gente que me fez rir, que teve paciência comigo, que me abriu os olhos e me ouviu quando eu precisei, gente que me criticou (lembra de quando eu gostava daquela criatura e você me chamava de otário? Foi a melhor coisa que você podia ter feito, amigos são para estas coisas) mas fazer o quê?! business.
Boa semana!