"Que passa chica?"

Não sei como responder-te. Isso poderia significar aninhar-me em teu ombro.

E eu suspiro. Tens sido tão íntegro. Resististe tão educadamente a todas as minhas investidas.

Enquanto eu me comportei como uma vagabunda, tu te comportaste como um cavalheiro. E agora, quando eu estou tão triste, com toda tua natural gentileza, tu me perguntas “o que passa?”.

Recentemente vi obras de Renoir num Museu. Não conheço muito de Arte, mas admiro a beleza com que este francês retrata os cafés parisienses. Também não bebo muito café, mas adoro o aroma. Também nunca estive em Paris, mas estudei francês.

E estou te contando tudo isso para dizer que adoraria estar contigo numa cafeteria. Ainda que fosse aqui mesmo, no Brasil, comendo um pão de queijo, uai. Junto à bilheteria do Museu há uma cafeteria muito aconchegante. Nos fundos do Museu pode-se ver um pequeno bosque com araucárias e outras espécies nativas da região serrana. Então, fico imaginando que lá seria um bom lugar para eu te contar como estou.

Mas tudo isso que eu imagino é tão sonhador como ter estudado francês tantos anos, mesmo sabendo que eu nunca iria a Paris.

Contudo, mesmo que eu nunca vá a Paris, mesmo que não nos sentemos a uma pequena mesa, num lugar discreto, para tomarmos um café fumegante, é reconfortante saber que tu te importas em saber como passo.

É outono, e para saber como eu estou, é preciso que observes uma árvore que já esteja com as folhas avermelhadas, amareladas. É preciso que esteja frio o bastante para veres a fumaça que emana da xícara de café. E reforço, tem de ser sem açúcar. E também é preciso que haja muito silêncio para que apenas o vento forte seja ouvido.

Estou assim, sentindo uma amargura, muito frio, sem forças para me conduzir a lugar algum. Sinto-me uma folha desprendendo-se, secando, mudando de estação, caindo, soprada pelo vento.

Estou triste porque mudanças acontecem em minha vida. Amadureço. Aprender às vezes perpassa pela experiência de sofrer. Choro. Mas no teu ombro as lágrimas caem e cessam.

Escrevendo pra ti eu me conforto. Obrigada por perguntar “ que passa?”. Ao responder, aninhada no teu carinho, eu entendo, o que passa comigo, passará. Com certeza passará.

Besos,

Íris

Íris Ciano
Enviado por Íris Ciano em 26/03/2009
Código do texto: T1506833
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