CARTA DE APRESENTAÇÃO DO LIVRO PÃO DE MEL E FEL

Adalberto Antônio de Lima começou a trabalhar muito cedo e com apenas 12 anos, levei-o para morar comigo. Deixou a pequena cidade de Santo Antônio e fixou residência em Picos. Trabalhando em minha empresa pôde dar sequência aos estudos.

Em minhas constantes viagens a São Paulo, ele assumia o comando do armazém Flor-de-Lis. Tomava as deliberações necessárias para fazer girar o comércio até minha volta. Naturalmente, por causa de sua tenra idade, não podia ser representante legal, mas o era de fato, em função das atribuições que lhe eram conferidas. Oficialmente procurador ao atingir a maioridade, gerenciou em meu nome, a Transportadora Bezerra Ltda., nos anos 1972 e 1973.

O engenho poético de Adalberto Antônio de Lima revelou-se ainda em sua meninice, quando compunha versos de improviso para agradar ao pai. Esse dom esteve guardado por muitos anos e, agora, apresenta-se de forma admirável.

No lirismo de seus poemas, o Eu poético surge despido de qualquer pudor e saudosamente canta as lembranças do tempo em que escondia seu “bastão” entre os seios da amada. “A VIUVINHA” vai mais além e expõe o ciúme que o esposo sente do primeiro marido de sua mulher – um defunto -, que, como Vadim de Dona Flor, vem postar-se entre eles no momento do coito.

A vocação pela arte de escrever robusteceu fortemente na juventude, quando nosso autor se reunia com Gilson Chagas e outros colegas, para discutirem literatura e regras gramaticais, no escritório do armazém Flor-de-lis. Dali surgiram muitas idéias de avanço na literatura. Juntos publicaram um jornal de circulação externa, intitulado O Brado Estudantil, e, logo na primeira, página o tema literatura foi vastamente explorado.

Talvez isso tenha despertado em mim o desejo de escrever. De sorte que, ao completar setenta anos, lancei meu primeiro livro, o que não teria feito se não fosse a mente prodigiosa do irmão Adalberto. Passava-lhe o original de forma manuscrita e coube-lhe, não só organizar “O BRASIL NOSSO DE CADA DIA”, ”FAGULHAS E LAMPEJOS” e outros tantos, como também concatenar as idéias, lapidar a pedra bruta, submetendo-a ao buril de sua inteligência.

Não há como conter uma enxurrada sem provocar uma represa, assim como não se conseguirá abafar os dons com os quais Adalberto foi agraciado, senão, acumulando-os nos anéis da mente, para liberá-los aos poucos, gota a gota em cada página de seus livros, portanto, é verdadeira sua afirmação: “Não se pode por um freio na boca do profeta, nem algemas nas mãos do poeta”.

Na idade madura, os compromissos da profissão bancária lançaram-lhe névoa sobre os dons literários, “mas o sol da liberdade, em raios fúlgidos” brilhou novamente em seu berço esplêndido, devolvendo-lhe a fertilidade e capacidade de recriar a própria arte. Assim, livre de todos os elos que possam prendê-lo ao rigor das estruturas dos gêneros literários, Adalberto Lima alça vôo em estilo próprio e faz dos padrões previamente concebidos, apenas uma trilha, nunca um trilho.

Francisco de Assis Lima e Silva