A uma amigo

William,

Meus versos estão aqui pensando em ti. Digo a eles que sejam moderados, que só se permitam sonhar até onde está teu poema. Nada além.

Mas, oh, meu futuro amigo! Quão difícil é lidar com menino! Ele quer sonhar que é poeta! Estou tentando entrar em acordo com ele. Explico que só ouvi tua voz uma vez entre meus sorrisos. Ele está surdo. Diz que nasceu de uma mulher e foi amamentado entre flores. Tem direito a sonhar. Mas há algo mais terrível – Entre sussurros pela madrugada adentro ele está a ti esperar!

Sabe, amigo, os versos não são como nós; enquanto estamos olhando a tarde eles há muito já sentaram em um banco de alguma pracinha tecida entre rimas e estão a namorar. Até finjo que não compreendo, rindo dessas inquietações dele. Então a curiosidade me chega. Não digas nada. Não te zangues. Sei que não nos conhecemos. Finge também como eu, nas linhas anteriores, que não entendes minha voz. Porque se para continuarmos vivendo necessitamos dessa voz que nos fala no interior há uma que nos limita na razão. Usa desta. Eu sou um caso perdido já.

Se eu fosse uma flor eu mandaria ladrilhar os versos de minha poesia com pétalas perfumadas só para teus versos passarem. Ousadia? Argumento que meu verso mora comigo e já o abrigo entre as linhas de meu coração

É uma loucura viver junto a versos assim... Dizem gostar de alguém sem tê-lo visto; deitar-se entre lençóis e sonhar com suas rimas; ver os cabelos, as feições e o sorriso largo de um rosto que não o desenhamos com os olhos. “Ainda, não. Mas breve!”, insiste o verso.

Pergunto-te que faz uma mulher na minha idade (A da poesia te permite tudo, argumenta ele!) que se deixa estar no ridículo de enviar cartas ao autor de uma voz ( Mudo ficou o verso!)?

Creio que ele tem razão. Entre meus lábios cogita um pronome que ainda vive em mim - eu. A mulher presa ao reflexo do espelho sorri amarelo e a autora do texto canta seus motivos em ritmos líricos do Ágora!

Teresa Cristina flordecaju
Enviado por Teresa Cristina flordecaju em 18/03/2009
Reeditado em 18/03/2009
Código do texto: T1493165
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