CARTAS QUE NÃO MANDEI ( 2 DE 3)
DR.TOLENTINO,
As árvores estão se desfolhando pelo capricho do outono, e sinto-me em consonância com o expurgo das coisas fanadas quais folhas ao vento.
Renovam-se em mim as esperanças, na certeza de que nosso amor é um renovar constante como a primavera que se aproxima.
Da janela ouço o silêncio da rua que pára, a admirar junto a mim a lua cheia e as estrelas, principalmente a nossa estrela que conservo sempre comigo.
Quando você não vem ver-me, assoberbado com seus estudos, mergulho na saudade, ao som da “Sonata ao Luar” que dedilho com gosto no piano, e sinto sua presença junto a mim.
Na “Escola Modelo”, já antevêjo meu final de curso e esperarei por você, envolvido sempre com seus pacientes, bisturis, pesquisas e o ideal do pretenso cientista... Nosso futuro, já traçado e cheio de promessas, enleou-nos quando, enlaçados pelo Danúbio Azul no seu baile de formatura, eu voava em seus braços, sentindo seu coração pulsar junto ao meu num rítmo apressado e feliz...
Tempos depois sua festa linda ao despedir-se para a Europa, mas nosso amor radiante de felicidade a sonhar com a realização da plena coroação dos nossos lindos sonhos...
A bolsa de estudos e especialização em Paris, a partida, as promessas deixaram que a solidão se entranhasse em mim, qual sombra a acompanhar-me ,levando-me sempre a buscar nossa lua e minha estrela...
As vitórias do pesquisador, ideal com o qual sempre sonhara, se iam concretizando e os jornais que eu buscava com avidez enchiam-me de orgulho, misto de saudade e solidão. Suas cartas cheias de projetos para nosso futuro, iam-se distanciando... escassês de tempo, muitos e muitos compromissos...
E a colega francesa, compartilhando de seus ideais, conquistou-o para sempre..
Você ficaria de vez na França, eu entenderia, era tão compreensiva... Eminente professor, conferencista por toda a Europa, lá seria seu lugar, e
por lá ficou de vez...
CAROLINA