Pai

Pai,

Hoje senti tua falta. Não sei porque, mas hoje eu daria tudo pra estar do teu lado mesmo sob teu olhar severo e teu ar de descontentamento comigo.

Sei que nunca fui o filho que você esperava, mas você também nunca foi o pai que sonhava ter. sabe pai, não sei quem errou ao longo da nossa vida juntos, não sei nem se houve algum erro, mas claramente existia uma distância estranha entre eu e você. Você nunca enfeitou meus sonhos como um modelo a seguir,nunca foi meu herói,nunca me espelhei em você, ao contrário. Quando fui pai pela primeira vez, olhei bem fundo nos olhos do meu Thiago e prometi a ele que eu nunca seria o pai que você foi pra mim, mas eu falhei, consegui ser ainda pior. Pelo menos você, meu pai, me sustentou, me deu uma casa, uma família. E eu? O que eu dei a eles? Comprei muitas vezes minha ausência.

A tua indiferença comigo aos poucos nos afastou sem eu me dar conta. Pouco a pouco você se tornou o Robertão e não meu pai. Só consegui encostar minha mão no teu ombro quando já estavas no leito de morte, foi somente ali que eu tive noção de quem você realmente era dentro da minha vida.

Muitas vezes aprontei pra chamar a atenção dos outros. Desde criança fui o peste da família, eu sempre fiz de tudo pra te irritar. Mas pai, não era maldade minha não, era só uma forma de chamar atenção, já que para as minhas qualidades você jamais olhou.

É até engraçado, mais ainda hoje faço tudo o que você não gosta. Faço faculdade daquilo que você sempre criticou chamando de hipócritas manipulados, hoje chefio a empresa que você tanto odiou, mas hoje não faço pra te aborrecer. Hoje eu faço porque descobri que no jornalismo eu sou quem eu sou na verdade, é com gosto que estudo.Trabalho por dinheiro, foi o único emprego que me paga bem o suficiente pra viver como eu quero.

Você tem uma parcela de culpa por eu ser assim exibido, metido a besta. Eu precisei descobri sozinho que eu prestava pra alguma coisa, já que arrancar um elogio teu era difícil e não arranquei nunca.

Hoje entendo a tua falta de atenção comigo, tua falta de tato e nossas enormes brigas, era por que eu sou exatamente igual a você. Logo eu, o filho que você não acreditava ser seu. Você sempre preferiu seus 4 R, e eu sempre fui o oposto deles.

Sabe pai, ontem e hoje foram dias difíceis, quis voltar a ser criança pra ter a proteção que eu tinha de vocês, mas to aqui lutando contra minha vontade de voltar pra casa, pra poder provar a mim mesmo quem eu sou. Meu lugar não é no meio dos teus R, afinal, lembra daquele dia que você me disse que eu nunca tive nada? Pois é... então decidi ter tudo, tudo pelas minhas mãos. Não acho justo usar o que foi seu pra fazer valer meu sobrenome.

Hoje eu senti tua falta, pra ouvir poucas e boas, pra você me chamar de fraco, pra quem sabe, dessa vez eu te agradeça por enfim me falar verdades.

hoje eu sei que sempre te amei.

desculpa por todas as vezes que eu te disse que vc não tinha meu amor.

Eu menti em todas elas.

Dom Casmurro
Enviado por Dom Casmurro em 27/02/2009
Código do texto: T1460902
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