De repente a Melhor Amiga

Ela tinha grandes olhos verdes e longos cabelos castanhos, lábios vermelhos e pele suavemente dourada. Seu sorriso iluminava os cantos da sala e seu olhar enternecia o mais duro dos corações. A única coisa que sei a seu respeito, é que gostava de verde e de seu vestido de veludo da mesma cor.

Mas alguém partiu e levou consigo o brilho daquele olhar. Por quem esperas menina?Tão só e melancólica em sua camisola de linho branco e olhar perdido no horizonte. Com apenas a brisa morna do final da tarde e o frescor da relva ainda aquecida pelo sol a te acariciar a face e os pés descalços. O que perdestes? E o que buscas com teu olhar?...

Desde menina carrego essa imagem comigo; às vezes me vem como sonho e outras como uma recordação muito antiga. Mas a sensação que trás é sempre a mesma, um sentimento de pesar melancólico e uma solidão que parece me seguir pelos séculos. E eu sempre me pergunto o que ela teria perdido para estar tão triste; por quem ela tanto espera? A resposta não me vem. Fica só o profundo sentimento de perda e a cena quase que estática da moça que espera em sua longa camisola de linho branco, cabelos soltos ao vento, pés descalços sobre a relva e buscando com o olhar perdido no horizonte a esperar... Por algo que não vem.

Minha intenção inicial era escrever sobre esse sentimento pesado, até que ele se consumisse pelas páginas; e se perdesse tal qual a efêmeras palavras levadas pelo vento. Foi então que ouvi a seguinte frase: ”... Nos filmes, existe sempre a protagonista e a melhor amiga. Olhando pra você nesse momento, eu não tenho dúvidas que seria seu o papel de protagonista. Mas não sei por que, você se comporta como a melhor amiga”. Essas palavras não foram ditas a mim diretamente, eu as ouvi em um filme. Mas não poderiam ser mais propícias!

Nesse momento percebi o que a moça havia perdido. Ela perdera aquilo que ninguém jamais deveria perder. Ela perdeu seu mais valioso bem; Ela mesma. Eis aí o motivo da espera interminável. Simplesmente não podemos esperar por nós mesmos olhando para o horizonte, como quem espera por um grande amor que partiu para a guerra. Não devemos esperar, e sim buscar! Buscar, mas não em lugares longínquos ou vincularmos essa busca a alguém. Pois nada, ninguém pode suprir a saudade que na verdade sentimos de nós mesmos. Devemos sim, buscar nos países mais distantes que habitam em nós e resgatar o nosso “ser” apático e abatido do cárcere em que se encontra. Trazendo a tona o nosso sorriso e o nosso eu que é tão bonito, e dessa forma sermos donos de nós.

A partir de então não mais buscaremos, e sim agregaremos fatos, pessoas e sentimentos. Pois tomaremos as rédeas de nossas vidas e protagonizaremos a nossa história. NADA E NEM NINGUÉM É SUFICIENTEMENTE GRANDE PARA SUPRIR VOCE DE VOCÊ MESMO.

Talvez você esteja se perguntando, talvez não entenda como se pode chegar a tal ponto de perder o papel principal da própria vida. Saiba que não é tão difícil ou raro acontecer, basta apenas se deixar levar...

cinara
Enviado por cinara em 24/02/2009
Reeditado em 24/02/2009
Código do texto: T1455437
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