Medo...

Observei teus detalhes enquanto escrevia.

Tão absorto...

Fingi prestar atenção no que falava

Mas que bobagem...

só queria admirá-lo,

sem que soubesse que o fazia

Observei teus dedos longos enquanto

segurava a caneta

Tua pele fina e delicada

parecia mais bem tratada do que a minha

Meus olhos foram subindo pela tua figura,

acompanhando o desenho das costas,

teus cabelos despenteados propositadamente.

(...parece um menino ...)

Ah... se de repente voltasse a cabeça,

leria minhas feições.

Eu pagaria qualquer valor

para ter algo inteligente para dizer

Disfarcei.

Corri os olhos por sobre os objetos da mesa

Pequenas coisas que falam de você

A sala ficou pequena ...

Só havia você nela

e eu na soleira a te fitar

Queria falar, queria tocar...

Estava a dois passos,

mas quão longe era!

Imaginei correr tua nuca com meu nariz,

passar os dedos em tua boca,

cobrir o dorso da tua mão com a minha

Pensei nos lugares que nunca iremos juntos,

nas músicas que você nunca saberá que gosto

Você se virou,

estendeu-me o papel

Foi polidamente simpático,

correto, perfeito

Eu, ingênua

Não havia espaço nem ar para mim

Sorri, agradeci

Retirei-me antes que percebesse minha mão tremendo,

meus olhos me entregando...

Despedi-me.

Não olhei para trás.