Para Meu Amor
Querida, na última carta escreveste muitas coisas que me foram doídas de ler. Tentei processar a informação, degluti-la, nas como que se fosse um bolo alimentar mal mastigado meu corpo não o aceitou.
Existe remédio para a dor da alma? Dizem que não. Porém Freud está cada vez mais latente no dia-a-dia das pessoas. Então porque não decidem deixar de sofrer?
Fazer escolhas não é tarefa fácil. Tomar as rédeas da própria vida (porque essa, como você mesmo disse, é única e não há reimpressão) pode ser mais complicado do que parece ser.
Eu, como também muitas outras pessoas, vivemos bem aconchegadas na zona de conforto. Nosso hipotálamo não deixa com que a ‘ordem’ estabelecida seja quebrada.
Assim os dias foram passando. Eu nessa vidinha medíocre, que aceitei, resignando-me, aceitando, doando, sofrendo, nada recebendo.
Há dentro de mim, um outro EU, inconsciente, meio adormecido. Aparece às vezes, fazendo com que eu escreva suas fantasias, desejos, loucuras e segredos, que muitos já chamaram de sórdidos.
Esse ‘eu’ reprimido, quando usa minhas palavras para dizer o que deseja, faz com que meus textos pareçam gritos de socorro. Já pensei como alguém tão infeliz consegue escrever textos tão belos (lembra que um dia você também me indagou sobre o fato?). É como você já mesma escreveu: ‘na dor é que as mais lindas obras foram feitas’.
Meu Deus. Olho para trás e vejo que não vivi uma vida plena. Curvei-me, tornei-me um corcunda, e agora no fim da vida só me resta dizer-lhe: a única coisa que me fez feliz, foram os amores que tive.
Aquelas cartas de amor que te mandei, por você ter implorado para ler, coloque-as no meu túmulo. Serão as coisas belas que meu corpo cansado, velho e sem vida, guardará em sua última morada.
Quero dizer-te também. Você foi a minha musa inspiradora. Mesmo não tendo te tocado nunca, morrerei com o doce sabor dos seus beijos em meus lábios.
Cuide-se bem adorada minha. Adeus!
Seu F.