SALOMÉ

Na realidade eu sou frigida, mas tratei-me...

Primeiro porque Sim, depois porque Também... Ele curou-me, é certo! Não sei é se tenho cura?...

O facto de não atingir o orgasmo era para mim uma brincadeira, tornei-me uma “histérica controlada” e dava um prazer desmedido ao meu marido. Fui experimentando ver até que ponto o punha em êxtase, até ao ponto de cravar, arranhar e morder lhe passarem a ser uma necessidade: ele sentia através da violência!

Eu desejava ser Salomé! Seduzir até à morte... Comecei a habitar um mundo de fera, aleijar e já não dar prazer: começou a ser vicio, sonhei castrá-lo! Aí..., assustei-me.

Até saber do facto notável dum doente em Moçambique fazer curas de fertilidade, fidelidade e felicidade... Quem o beija-se, entregando-se ao seu poder, ficava curada. Pensei que daria “o 'anûs' e cinco tostões” para lhe beijar os quilhões, a causa da sua doença, um crescimento continuo do escroto, o saco já lhe chegava aos joelhos.

Quando regressei curada, continuei a chicotear o meu marido e a dar-lhe os requintados prazeres da dor. Já sem ele correr qualquer perigo, mas frigida de novo.

Foi quando apareceu um cara a quem escrevi uma carta:

«Possuis a minha razão e os meus dias, escravizas os desejos que tenho e os que não quero ter!», só fixei a primeira frase e não sei se vai haver segunda fase no nosso relacionamento: “deu-me com os pés” ou “deixou de cá pôr os pés”, para já não há escolha, a relação está neste pé. Mantenho-me fiel...

Salomé

Francisco Coimbra
Enviado por Francisco Coimbra em 01/05/2005
Reeditado em 01/05/2005
Código do texto: T14113