CARTA A PAULO
Caro Paulo*,
Venho reiterar o que foi dito em seu comentário sobre os flanelinhas. Infelizmente, o centro da cidade (ou em qualquer lugar da cidade onde haja aglomeração) se tornou uma zona loteada, onde o espaço é disputado por um sem número de pessoas, na maioria das vezes de desocupados, intituladas de "flanelinhas" que, arbitrariamente, cobram por um serviço que você não contratou e, ainda por cima, lhe ameaçam quando você se recusa a participar desse tipo de paternalismo.
É evidente que o problema é social, pois muitos dos que por ali circulam – marcando seu território – são pais de família tirando o seu sustento através do que arrecadam com as gorjetas.
Entretanto, tornar esse assistencialismo oficial, sem que as autoridades tomem providências, é mascarar um grave problema de políticas públicas para absorver essa camada da população que se encontra ociosa, à margem da sociedade, e que, por isso mesmo, invade as principais ruas da cidade e delas se apossa, desafiando a ordem, cobrando por um serviço não oficial e, o que é pior, com a aquiescência das autoridades.
Continuando sobre os "flanelinhas", caro Paulo: esta semana, eu passei pela experiência de ser desacatado por um deles - fato que me revoltou muito, pelo simples fato de que, no meu desespero por tentar uma autoridade policial para me proteger, o espaço da praça Vigário Antonio Joaquim, centro da cidade – ao lado da Câmara dos Vereadores – não me apresentou nenhum.
Isso me revoltou! Foi preciso agir por conta própria, enfrentando-os.
Melhor contar: eu estacionei em frente à Rádio Rural (tinha ido participar, juntamente com o jornalista Mário Gerson, da pauta da emissora, como aula prática da faculdade), às 08h00min e, antes de descer do veículo, já tinha um "flanelinha" ao lado querendo "lavar o carro". Falei que o carro não precisava ser “lavado” e ele insistiu dizendo que não custava muito. Diante de nova recusa, ele me perguntou se eu iria demorar muito. Falei que não. Ele, então, me disse que iria "pastorar". Eu apenas desci e não respondi nada. Na volta, ao abrir a porta do carro, o "flanelinha" – que estava jogando baralho com mais dois, na praça – quando me viu, gritou, acenando para eu parar.
Estranhei a atitude, mas, para ver no que iria dar, fiquei parado esperando a chegada dele (que veio acompanhado por outro). Ao chegar do meu lado, ele foi logo dizendo:
"- Pô! Você me disse que ia demorar pouco, por isso não me deixou ‘lavar’ seu carro e, na verdade, só agora aparece! Tinha dado tempo de sobra!"
É claro que, nesse momento, eu já me encontrava no limite da paciência (mesmo porque o sol estava forte) e estava sendo impedido de entrar no meu próprio veículo.
Para não partir para "os finalmente", eu tirei a única cédula que tinha (R$ 5,00) e pedi que ele me devolvesse R$ 4,00. Qual foi a minha surpresa quando o mesmo falou que, pelo tempo que o carro tinha ficado estacionado, o preço era R$ 5,00. Nesse momento, corri a vista para pedir socorro a um policial e, como não encontrei, o jornalista que estava comigo foi quem me socorreu, enfrentando-os comigo.
O pior foi quando saí: ao olhar no retrovisor, vi o "flanelinha" anotando a placa do meu carro. Pode?
Nota do autor: Escrevi uma crônica falando sobre o assunto, intitulado “O Poder dos Flanelinhas”, no Jornal Gazeta do Oeste, no dia 30 de Março de 2008. De lá para cá, apesar de inúmeras denúncias da população motorizada, o número de “flanelinhas” só aumentou, sendo praticamente impossível se estacionar dentro da cidade de Mossoró/RN, sem ter que pagar por um serviço que você não contratou e, ainda por cima, público. E o poder público? Fecha os olhos para o problema social. A carta, no caso, foi postada no blog de Paulo Martins, na ocasião do incidente e, daquela postagem, inúmeras outras a sucederam.
Caro Paulo*,
Venho reiterar o que foi dito em seu comentário sobre os flanelinhas. Infelizmente, o centro da cidade (ou em qualquer lugar da cidade onde haja aglomeração) se tornou uma zona loteada, onde o espaço é disputado por um sem número de pessoas, na maioria das vezes de desocupados, intituladas de "flanelinhas" que, arbitrariamente, cobram por um serviço que você não contratou e, ainda por cima, lhe ameaçam quando você se recusa a participar desse tipo de paternalismo.
É evidente que o problema é social, pois muitos dos que por ali circulam – marcando seu território – são pais de família tirando o seu sustento através do que arrecadam com as gorjetas.
Entretanto, tornar esse assistencialismo oficial, sem que as autoridades tomem providências, é mascarar um grave problema de políticas públicas para absorver essa camada da população que se encontra ociosa, à margem da sociedade, e que, por isso mesmo, invade as principais ruas da cidade e delas se apossa, desafiando a ordem, cobrando por um serviço não oficial e, o que é pior, com a aquiescência das autoridades.
Continuando sobre os "flanelinhas", caro Paulo: esta semana, eu passei pela experiência de ser desacatado por um deles - fato que me revoltou muito, pelo simples fato de que, no meu desespero por tentar uma autoridade policial para me proteger, o espaço da praça Vigário Antonio Joaquim, centro da cidade – ao lado da Câmara dos Vereadores – não me apresentou nenhum.
Isso me revoltou! Foi preciso agir por conta própria, enfrentando-os.
Melhor contar: eu estacionei em frente à Rádio Rural (tinha ido participar, juntamente com o jornalista Mário Gerson, da pauta da emissora, como aula prática da faculdade), às 08h00min e, antes de descer do veículo, já tinha um "flanelinha" ao lado querendo "lavar o carro". Falei que o carro não precisava ser “lavado” e ele insistiu dizendo que não custava muito. Diante de nova recusa, ele me perguntou se eu iria demorar muito. Falei que não. Ele, então, me disse que iria "pastorar". Eu apenas desci e não respondi nada. Na volta, ao abrir a porta do carro, o "flanelinha" – que estava jogando baralho com mais dois, na praça – quando me viu, gritou, acenando para eu parar.
Estranhei a atitude, mas, para ver no que iria dar, fiquei parado esperando a chegada dele (que veio acompanhado por outro). Ao chegar do meu lado, ele foi logo dizendo:
"- Pô! Você me disse que ia demorar pouco, por isso não me deixou ‘lavar’ seu carro e, na verdade, só agora aparece! Tinha dado tempo de sobra!"
É claro que, nesse momento, eu já me encontrava no limite da paciência (mesmo porque o sol estava forte) e estava sendo impedido de entrar no meu próprio veículo.
Para não partir para "os finalmente", eu tirei a única cédula que tinha (R$ 5,00) e pedi que ele me devolvesse R$ 4,00. Qual foi a minha surpresa quando o mesmo falou que, pelo tempo que o carro tinha ficado estacionado, o preço era R$ 5,00. Nesse momento, corri a vista para pedir socorro a um policial e, como não encontrei, o jornalista que estava comigo foi quem me socorreu, enfrentando-os comigo.
O pior foi quando saí: ao olhar no retrovisor, vi o "flanelinha" anotando a placa do meu carro. Pode?
Nota do autor: Escrevi uma crônica falando sobre o assunto, intitulado “O Poder dos Flanelinhas”, no Jornal Gazeta do Oeste, no dia 30 de Março de 2008. De lá para cá, apesar de inúmeras denúncias da população motorizada, o número de “flanelinhas” só aumentou, sendo praticamente impossível se estacionar dentro da cidade de Mossoró/RN, sem ter que pagar por um serviço que você não contratou e, ainda por cima, público. E o poder público? Fecha os olhos para o problema social. A carta, no caso, foi postada no blog de Paulo Martins, na ocasião do incidente e, daquela postagem, inúmeras outras a sucederam.
* Paulo Martins é formado em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo - pela UERN e tem o blog: paulomartinsblog.zip.net