O bilhete

Passa o tempo, passa a vida, e você me pedindo:

_Fica!

Mas é hora que já se faz.

Quero dizer-lhe, menino adorado, foi muito bom ficar ao seu lado, brincar de adolescente em seus braços, mas é tarde em mim, e em você cedo ainda.

Lá fora, à sua espera, uma vida a ser descoberta. Íngremes paredes, vales e estradas, e em seus olhos o mundo ainda é imenso, mas nos meus, já se faz setembro.

Sabe, menino, ficar eu até poderia, mas o tempo tudo transformaria e nada sobraria daquilo que eu tenha lhe ensinado.

Do verão deixo coloridos dias. Do outono, as promessas junto às folhas ao vento. Do inverno, todos os planos em pensamento, mas da primavera nada deixo porque o mundo neste momento, também em mim, se faz setembro...

Todas as minhas íngremes paredes já foram escaladas. Meus vales, por muitos amores, enfeitados. Minhas estradas, agora, podem não ser muitas, mas preciso ir porque meus olhos ainda têm algumas caminhadas.

Despeço-me aqui, meu menino. Recomece. É início de outro verão. A vida é assim. Nasce um dia a cada dia e muitos dias ainda virão.

Quando a saudade chegar deixe a lembrança se apresentar. Ela trará os momentos em que, em mim, você se perdia, e as flores com as quais, nestes instantes, você me cobria. Portanto, meu menino, nunca esqueça que só ela pode trazer de volta tudo aquilo que vivemos até que, para mim, se fizesse setembro...

Li Vaz
Enviado por Li Vaz em 19/01/2009
Reeditado em 06/02/2009
Código do texto: T1392875
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