Muito prazer! Meu nome é Brasil.

Muito prazer, meu nome é Brasil.

Tenho, quase, quinhentos e nove anos, mas ainda sou jovem se comparado a muitos companheiros deste mundo afora.

Não se perturbe com minhas lágrimas porque são derramadas há muito tempo e, com certeza, elas secarão.

Sou imenso, mas fui mais bonito. Já pertenci a reis e príncipes, já possuí muito ouro, já fui dividido e já fui objeto de desejo de muitos aventureiros.

Amadureci pouco, mas ainda permaneço com a mais linda floresta e rios que possa, você, imaginar.

Nunca fui de pedir nada, mas doei muito: Alegria, riqueza, e calor.

Agora escrevo para pedir sua ajuda.

Não sei mais onde estou e o que sou, e isto está me causando uma grande tristeza, pois minha missão era ser uma grande nação e, acredite, entrei na curva errada. Agora está cada vez mais difícil reencontrar o meu caminho.

Entendo se você pensar que o erro foi meu e que agora tenho que me arranjar sozinho, mas durante este caminho, fui roubado, achacado, debochado, enfim, caíram, por terra, todos os meus valores e, com isto, perdi minha dignidade.

Assisti meu ouro ir embora, minhas matas serem arrancadas e queimadas, meus rios serem afogados em lamaçais de lixo e por fim, meu povo ser desmoralizado por seus próprios pares.

Mesmo que eu tente, minhas pernas estão fracas, e é difícil ficar de pé sozinho.

Estou disposto a pedir perdão. Estou disposto a recomeçar. Tenho muita vontade, ainda. Pouco ouro é verdade, mas meu povo é feito, em sua maioria, de gente sofrida, mas capaz.

Meu povo ainda tem armas. Armas que não matam, mas armas que podem construir estradas, escolas e hospitais. Meu povo possui mãos que ainda afagam, que acariciam faces distorcidas pelo sol e pelas horas e horas de trabalho na lavoura, nos campos e cafezais. Mãos que ligam as máquinas das indústrias e, ao cair da tarde, abrem as portas de seus lares e se estendem para um abraço de “Boa noite”.

Aprendi através deste caminho errado que pedras existem e estarão sempre lá para que nunca esqueçamos que nem sempre um caminho, sem elas, nos leva onde queremos chegar.

Meu povo tem muita criança e eu penso que seus sorrisos ou lágrimas deveriam ser, apenas, por alegria, e suas mãos sujas, assim deveriam estar, apenas, pela tinta da escola, e seus sonhos nunca poderiam ser por “comida”.

Bem, sou Brasil. 509 anos, casado com um povo sofrido, mas cheio de esperança. Resido no hemisfério sul. Tenho chuvas, mas, também, muito sol por toda minha área. Passei por muitas mãos, mas queria estar, apenas, nas mãos dos meus filhos. Afinal, dizem que sou a mãe gentil dos filhos deste solo.

Sei que ao ler a minha carta você vai perceber que não a escrevi sozinho. Ela é simples, mas seu envelope foi colado com a emoção de muitos filhos meus. João (dezenas), José (centenas), Maria (Nossa, não sei quantas!), e muitos outros.

Espero você, mas, por favor, não demore!...

Assinado: Pindorama – Assim, chamavam-me os índios.

Depois:

Ilha de Vera Cruz – Em 1500

Terra Nova – Em 1501

Terra dos Papagaios – Em 1501

Terra de Vera Cruz – Em 1503

Terra de Santa Cruz – Em 1503

Terra Santa Cruz do Brasil - Em 1505

Terra do Brasil - Em 1505

Brasil – A partir de 1526

Li Vaz
Enviado por Li Vaz em 16/01/2009
Reeditado em 16/01/2009
Código do texto: T1387167
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