Eu não quero escrever mais!
Eu não quero escrever mais. Escrever é bom, mas me toma um tempo considerável. Às vezes tenho a impressão de que a vida está passando lá fora e eu aqui dentro de um apartamento, digitando, digitando...
Fico dias trabalhando em meus textos e sempre acho erros, quando os reviso. São como filhos para mim. Recebem meus cuidados diários. E ainda me deparo com o fato de um monte de gente ter pensado as mesmas coisas que eu e já tê-las registrado primeiro. Penso: nada de original nos meus escritos...
Hoje então está um calor insuportável. Deveria estar caminhando na orla com a minha família. Afinal de contas, é verão! Mas, estou aqui, escrevendo algumas linhas que creio: não me levarão à lugar nenhum! Várias "Letras vomitadas ao vento"(título do e-livro de um amigo meu lá do Paraná, o Samuel).
Acho que inventaram esta tal de escrita para prender os bobos. Enquanto fico aqui escrevendo no meu diário eletrônico e me julgando "a intelectual", deixo de lutar por meus objetivos. Cada dia precioso da minha vida, são momentos que passam e não voltam mais; um tempo perdido que não se pode mais resgatar.
Escrever é somente para um pequeno número de privilegiados que podem se dar ao luxo e não para mim que preciso matar um leão por dia para sobreviver; que preciso me preocupar com contas para pagar no fim do mês ou coisas desta natureza. Por isso, não vou escrever mais. Estou aqui me despedindo desta viagem ao mundo das letras que me foi muito útil por um certo tempo, talvez até como fuga da realidade; uma espécie de válvula de escape, sei lá!
Nas madrugadas, as idéias me vinham: eu ficava horas e mais horas a organizá-las na na mente para de manhã bem cedo, antes mesmo de tomar um café, expressá-las, torná-las reais. Como se só me restasse isto para fazer na vida: Pensar, escrever, viver!
Por um momento foi realmente minha forma de existir no mundo. Parei com tudo só por causa da escrita. Por alguns dias deixei de lado até minha família.
Nesta ânsia pelo "ser", acabei contraditoriamente me esquecendo de mim mesma. E na busca por provar a minha existência, terminei por negá-la completamente.
Mergulhei de forma intensa neste profundo oceano - o literário.
Coisa confusa esta!
Melhor me foi o ato de escrever do que o deparar com a minha atual e desafiadora situação - o desemprego.
Na verdade, houve até certos pontos positivos: treinei a língua portuguesa escrita; recebi comentários sobre meus textos que me alegraram muito e sustentei por algum tempo a minha esperança de um dia ser uma escritora de verdade. Pena que esta durou bem pouco. Os elogios, foram todos muito benvindos, mas o fato é que despertei dos meus delírios; me levantei e saí da frente do meu computador; respirei fundo e decidi:
- vou à luta!
Resolvi então ver como estava o mundo lá fora. Quase desfaleci quando vi tanta gente na peleja vagando pelas ruas da cidade. Eu sou só mais uma destas (conversei com os meus botões).
Apenas mais uma na batalha pela sobrevivência...
Fiquei pensando em algo para fazer que me pudesse gerar capital e Cheguei a triste conclusão: eu não tenho o mínimo talento para ganhar dinheiro.
Pensei outra vez com meus amiguinhos (os botões): deveria sim, era ter ficado em casa, bem quietinha, como o inseto da obra: "A Metamorfose", do Kafka. Olhar a multidão em nada me ajudou a não ser pela frustração que me causou acrescida a uma enorme sensação de insegurança.
Saber que daquele meio, poucos, bem poucos alcançarão seus mínimos objetivos ou mesmo subsistirão. Todos correndo para embarcar no trem da vida sem saber ao certo o destino a que este nos conduzirá. Que agonia! E eu que faço parte desta massa, só agora parei para pensar em tudo isto.
Misericórdia Deus, somos teus filhos!
Considero que muitos materialistas me condenariam pelo fato de me apegar à Deus nestas circunstâncias, mas na minha concepção é só Jesus, o Cristo, mesmo!
A fé Nele, é que me tranquiliza o coração conturbado e me permite atravessar o mar da vida sem me afogar:
"Mil cairão ao meu lado, e dez mil à minha direita, mas eu não serei atingida". Repito isto várias vezes em secreto para mim mesma.
E sigo nesta minha difícil trajetória, confiante na vitória que certamente um dia experimentarei. Alguns acreditam na lei da atração e eu acredito em Deus mesmo e ponto final. Sei que tudo isto passará e que "o choro pode durar uma noite mas a alegria, ela vem pelo amanhecer".
Mas, escrever não vou mais e isto por um bom tempo. Preciso agir; fazer algo que não tenho a mínima idéia do que seja.
(Confesso: Já pensei em tantas coisas: cantar nos bares da Lapa, foi uma delas. Tenho boa voz, quem sabe não me gera alguma renda!)
Todavia, escrever???
Por um bom tempo, não vou mais não!
Escrever me alivia a alma, mas neste momento, não paga as minhas contas.
Até algum dia!