Cartas de amor não são ridículas...

Talvez, quem sabe um dia, você possa chegar a ler essa carta. Pode até achar engraçado, mas mesmo após todo esse tempo, não te esqueci. Poderia até usar um lugar-comum, que cabe perfeitamente ao momento. Não me lembro muito bem da frase exata, mas é algo mais ou menos assim: 'Leva-se um segundo para conhecer uma pessoa, uma hora para apreciá-la, um dia para amá-la e uma vida inteira para esquecê-la.' É exatamente o que se passa comigo em relação a você.

Seria mentira dizer que ainda sou profundamente apaixonada, ou que meu coração dispara a cada toque do celular ou a cada mensagem nova que chega. Não mais. Digamos que tudo o que aconteceu me fez entender que o amor vai muito além das mensagens, coisas virtuais. O amor é real, sublime, intenso. Senti-lo é muito mais que um privilégio, algo inexplicável, que apenas quem realmente ama consegue entender. Algo que você provavelmente está sentindo nesse momento. Após a euforia da paixão de qualquer começo de relacionamento, vem o amor. Pedir a você que me explique essa sensação seria inútil, pois cada um tem um jeito único e especial de amar.

E é por isso que desejei, não posso dizer do fundo do coração, pois seria incoerente, mas com muita intensidade que você sofresse. Sofresse muito. Que essa pessoa capaz de causar sensações tão incrivelmente boas e prazerosas, te causasse dor na mesma intensidade, ou até mais. E com tal profundidade que você não conseguisse mais se recuperar. Assim como você me deixou, ou melhor, eu me deixei ficar. Não sei, talvez foram muitas promessas... Enfim, puramente frutos de uma mente encantada pela esperança do surgimento de um grande amor. Começo, por aí, a pedir perdão.

O perdão que já fora implorado inúmeras vezes, na esperança de continuar a viver meu conto de fadas imaginário. Foi cansativo para você, eu imagino, mas foi para mim também um grande fardo. E me atrevo a pensar que foi na mesma intensidade. Mas poderia acontecer o que fosse, ter o seu amor tornou-se mais do que uma necessidade, tornou-se um vício. Essa paixão absurda me cegou profundamente, a tal ponto que eu não vivia mais a minha vida, e sim, a sua. E assim foi durante muito tempo.

Então, naquela noite que você me revelou seus verdadeiros sentimentos, eu pude perceber o que realmente havia acontecido entre nós durante todo aquele tempo. Um simples palavra. Nada. Não aconteceu nada. Naquela mesma noite eu entendi que não se pode viver uma história de amor com um só personagem real, mas se pode imaginar todos os outros. E foi isso que aconteceu. Eu imaginei uma história, uma grande história...

Depois disso aconteceram muitas coisas que me pareceram muito estranhas no começo. Meu corpo e minha mente estavam completamente mudados. Comecei a me olhar no espelho e ver uma pessoa diferente. Uma mulher amargurada, com sede de vingança, pensamentos odiosos.

Mas agora sinto que minha alma está mais leve, mais serena. Estou voltando a olhar no espelho e ver aquela menininha, lembra? Esperta e meiga, às vezes um tanto quando distraída, arrancando gargalhadas de todos. Sinto uma imensa alegria no meu coração por nada do que desejei a você tenha se concretizado. E ao mesmo tempo uma imensa tristeza por todo o tempo que perdi num relacionamento sem futuro, com uma pessoa que nunca gostou de mim como eu gostava. Mas eu estava cega, não te culpo.

Confesso que quando penso em você ou em como está, algumas lágrimas correm por meu rosto. Não são de amor nem paixão, ou qualquer coisa assim. Creio que sejam de saudade.

Saudade de um tempo que ficou marcado em minha memória. Que eu me sentia vivendo intensamente, apesar de sofrer. Minha história imaginária ocupou toda a minha vida durante muito tempo. Talvez se livrar dela seja um tanto doloroso. E me livrar dela é deixar você ir embora também.

Mas eu nunca poderia esquecer de tudo o que aconteceu. Vocês estará sempre guardado em minha memória, agora não provocando ódio ou sentimentos ruins, mas me lembrarei de você com muito carinho. Apenas com o tempo poderemos nos perdoar por tudo que fizemos, pois foram tantos pedidos de desculpas que nem me lembro mais.

No final sempre aprendemos com a vida. E eu aprendi que viver sonhando, pode destruir a vida de qualquer um. Por isso, viva sempre a realidade e seja muito feliz. E se você ouvir aquela música que eu adoro e sorrir, eu saberei que fui perdoada. E se eu assistir àquele filme que você ama e sentir a mesma coisa, eu saberei que me perdoei.

Ligia Lopes
Enviado por Ligia Lopes em 12/01/2009
Reeditado em 12/01/2009
Código do texto: T1380175
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