Quero vender minha casa
Quem se predispuser a comprá-la, receberá um imóvel novo, recém reformado com algumas obras de arte da parede, algumas delas eu mesmo quem fiz ou pintei; isso porque eu quero vendê-la com tudo o que há dentro; móveis, roupas, utensílios domésticos, retratos, recortes, enfim, vendo-a de porta fechada.
Meu imóvel tem vista para as montanhas, garagem para dois carros, cobertura com vista para o azul celeste, três quartos e muitas lembranças, três sanitários e inesquecíveis temas. Tem uma sala em dois ambientes que já presenciaram festas, choros, mágoas, alegrias e tristezas. Tem uma cozinha que eu mesmo a trabalhei e quem comprar minha casa, poderá fazer moqueca de camarão em minha velha panela de barro que foi feita pelos índios do Araguaia, presente de um cacique e testemunha dos melhores quitutes que eu mesmo já provei.
Quem comprar minha casa poderá ficar com o cofre da marca Luso-Brasileiro, que me acompanha há 40 anos e que está cheio de títulos sem valor e algumas canetas bico de pena; ah! Tem também milhares de cédulas do Brasil e do estrangeiro que da mesma forma que os títulos, não vale mais nada senão o saudosismo de pensar em ser rico com os retratos do passado.
No escritório há os meus livros, que servem muito bem para enfeitar os armários; tem este computador que está escrevendo um texto através de meus dedos pela ultima vez; tem um armário repleto de perfumes franceses, motivos únicos de minha vaidade; alguns paletós empoeirados, camisas de gola italiana e uma bermuda camuflada que eu comprei no Uruguai.
Quem tiver dinheiro para pagar o meu imóvel ficará também com meu carro, que já está na garagem e que é do ano de 2008 de uma marca japonesa e que foi considerado o “carro do tiõzão”; poderá também desfilar aos domingos na velha Mercedes 1962, do mesmo ano que eu nasci que está estalando de nova. Herdará também, junto como imóvel; poucas dívidas que são fáceis e simples de serem pagas; nada que comprometa o valor venal da casa.
Aquele que comprar meu imóvel, ficará com os brinquedos de minha filha; dezenas de bonecas de pano e ursos de pelúcia; um vídeo game moderno e uma televisão de plasma; ficará também com outras três TVs de plasma que estão espalhadas pelos cômodos, alguns DVDs e um telefone do tipo orelhão da Daruma que pertenceu a algum botequim lá pelos idos de 1980. Ficará também com seis aparelhos de telefone celular e um charuto cubano da marca Cohiba, que fica encima de minha mesa de trabalho. Herdará duas impressoras e mais um computador foguete.
Algumas cadeiras que já presenciaram o sentar de tantas bundas e bundões e algumas mesas que sustentaram garfos, pratos, colheres, guardanapos e hipocrisias em forma de culinária; verdadeiras aberrações que poderiam ser trocadas por pratos de verdade e servidos aos famintos. Em minha casa não há baixelas, muito menos talheres de prata, somente por mera informação!
Dois tapetes persas legítimos, um sofá de couro para seis pessoas apertadas, um fogão Bosch de seis bocas, um microondas que não serve para nada e uma churrasqueira elétrica que comprei no Extra por R$ 25 em 2001, também farão parte do memorial descritivo de meu imóvel que estou ponto a venda. Sapatos de cromo alemão eu tenho dois; uma botina para os dias de chuva e muitas calças jeans da marca Lee, trazidas dos EUA. Ah! Tenho também um xilofone, uma gaita e uma harpa, que eu costumava brincar quando batia a melancolia. Lustres de vidro que imitam cristais e lâmpadas econômicas, também fazem parte do rol de meu imóvel.
As portas são vagabundas, mas veda bem do frio, chuva e impede ladrões amedrontados a invadirem o imóvel; as persianas são os toques futuristas; de alumínio dourado. Tenho também uma máquina de lavar para 15 kg, uma geladeira duplex frost free, um freezer e um galão de água de 20 litros em plástico cristalizado que é acionado por um carneiro mecânico hiper transado. Tem minha coleção de toalhas, fruto de pedidos e humilhações nos hotéis que passo todos os anos, 1.255 CDs originais de 451 DVS. Observação: não tenho nada de Axé, pagode ou de funk! Tudo isso fica no imóvel!
Vendo meu imóvel para enterrar uma vida e dar vida nova ao meu corpo. Quero apagar o passado e começar a viver o futuro. Deixo para trás a vida de mocinho para incorporar a vida do moço verde e para isso, preciso me ver livre destas amarras, destes conceitos e destes objetos. Preciso deixar os cheiros, as poeiras, os rabiscos, as lembranças e os costumes e nada melhor do que me livrar deste imóvel. Espero que ele consiga dar as mesmas alegrias a quem comprar, da mesma forma que já me fez feliz tantas vezes.
Não preciso de carros, paletós, DVDs ou de talheres para me sentir ainda mais feliz e útil; não preciso de festas ou de coberturas; não preciso de cheques ou cartões; não preciso deste teto e por isso quero vendê-lo, para provar que viver bem é possível e menos complicado do que pintam por ai.
Preciso mesmo é de PAZ e isso só será possível se conseguirmos refazer todos os capítulos de nossas vidas, por mais bela que ela possa parecer. Ninguém é feliz completamente, mas podemos ser ainda mais felizes se nos mantivermos longe e livres de complicações imbecís e toscas.
Por favor, me ajudem a vender este imóvel e será bem recompensado e me fará feliz...!
Carlos Henrique Mascarenhas Pires
Meu site: www.irregular.com.br
Quem se predispuser a comprá-la, receberá um imóvel novo, recém reformado com algumas obras de arte da parede, algumas delas eu mesmo quem fiz ou pintei; isso porque eu quero vendê-la com tudo o que há dentro; móveis, roupas, utensílios domésticos, retratos, recortes, enfim, vendo-a de porta fechada.
Meu imóvel tem vista para as montanhas, garagem para dois carros, cobertura com vista para o azul celeste, três quartos e muitas lembranças, três sanitários e inesquecíveis temas. Tem uma sala em dois ambientes que já presenciaram festas, choros, mágoas, alegrias e tristezas. Tem uma cozinha que eu mesmo a trabalhei e quem comprar minha casa, poderá fazer moqueca de camarão em minha velha panela de barro que foi feita pelos índios do Araguaia, presente de um cacique e testemunha dos melhores quitutes que eu mesmo já provei.
Quem comprar minha casa poderá ficar com o cofre da marca Luso-Brasileiro, que me acompanha há 40 anos e que está cheio de títulos sem valor e algumas canetas bico de pena; ah! Tem também milhares de cédulas do Brasil e do estrangeiro que da mesma forma que os títulos, não vale mais nada senão o saudosismo de pensar em ser rico com os retratos do passado.
No escritório há os meus livros, que servem muito bem para enfeitar os armários; tem este computador que está escrevendo um texto através de meus dedos pela ultima vez; tem um armário repleto de perfumes franceses, motivos únicos de minha vaidade; alguns paletós empoeirados, camisas de gola italiana e uma bermuda camuflada que eu comprei no Uruguai.
Quem tiver dinheiro para pagar o meu imóvel ficará também com meu carro, que já está na garagem e que é do ano de 2008 de uma marca japonesa e que foi considerado o “carro do tiõzão”; poderá também desfilar aos domingos na velha Mercedes 1962, do mesmo ano que eu nasci que está estalando de nova. Herdará também, junto como imóvel; poucas dívidas que são fáceis e simples de serem pagas; nada que comprometa o valor venal da casa.
Aquele que comprar meu imóvel, ficará com os brinquedos de minha filha; dezenas de bonecas de pano e ursos de pelúcia; um vídeo game moderno e uma televisão de plasma; ficará também com outras três TVs de plasma que estão espalhadas pelos cômodos, alguns DVDs e um telefone do tipo orelhão da Daruma que pertenceu a algum botequim lá pelos idos de 1980. Ficará também com seis aparelhos de telefone celular e um charuto cubano da marca Cohiba, que fica encima de minha mesa de trabalho. Herdará duas impressoras e mais um computador foguete.
Algumas cadeiras que já presenciaram o sentar de tantas bundas e bundões e algumas mesas que sustentaram garfos, pratos, colheres, guardanapos e hipocrisias em forma de culinária; verdadeiras aberrações que poderiam ser trocadas por pratos de verdade e servidos aos famintos. Em minha casa não há baixelas, muito menos talheres de prata, somente por mera informação!
Dois tapetes persas legítimos, um sofá de couro para seis pessoas apertadas, um fogão Bosch de seis bocas, um microondas que não serve para nada e uma churrasqueira elétrica que comprei no Extra por R$ 25 em 2001, também farão parte do memorial descritivo de meu imóvel que estou ponto a venda. Sapatos de cromo alemão eu tenho dois; uma botina para os dias de chuva e muitas calças jeans da marca Lee, trazidas dos EUA. Ah! Tenho também um xilofone, uma gaita e uma harpa, que eu costumava brincar quando batia a melancolia. Lustres de vidro que imitam cristais e lâmpadas econômicas, também fazem parte do rol de meu imóvel.
As portas são vagabundas, mas veda bem do frio, chuva e impede ladrões amedrontados a invadirem o imóvel; as persianas são os toques futuristas; de alumínio dourado. Tenho também uma máquina de lavar para 15 kg, uma geladeira duplex frost free, um freezer e um galão de água de 20 litros em plástico cristalizado que é acionado por um carneiro mecânico hiper transado. Tem minha coleção de toalhas, fruto de pedidos e humilhações nos hotéis que passo todos os anos, 1.255 CDs originais de 451 DVS. Observação: não tenho nada de Axé, pagode ou de funk! Tudo isso fica no imóvel!
Vendo meu imóvel para enterrar uma vida e dar vida nova ao meu corpo. Quero apagar o passado e começar a viver o futuro. Deixo para trás a vida de mocinho para incorporar a vida do moço verde e para isso, preciso me ver livre destas amarras, destes conceitos e destes objetos. Preciso deixar os cheiros, as poeiras, os rabiscos, as lembranças e os costumes e nada melhor do que me livrar deste imóvel. Espero que ele consiga dar as mesmas alegrias a quem comprar, da mesma forma que já me fez feliz tantas vezes.
Não preciso de carros, paletós, DVDs ou de talheres para me sentir ainda mais feliz e útil; não preciso de festas ou de coberturas; não preciso de cheques ou cartões; não preciso deste teto e por isso quero vendê-lo, para provar que viver bem é possível e menos complicado do que pintam por ai.
Preciso mesmo é de PAZ e isso só será possível se conseguirmos refazer todos os capítulos de nossas vidas, por mais bela que ela possa parecer. Ninguém é feliz completamente, mas podemos ser ainda mais felizes se nos mantivermos longe e livres de complicações imbecís e toscas.
Por favor, me ajudem a vender este imóvel e será bem recompensado e me fará feliz...!
Carlos Henrique Mascarenhas Pires
Meu site: www.irregular.com.br