Carta de suicídio

Hoje vi pessoas. Pessoas trabalhando, sorrindo, caminhando, andando. Elas apenas iam. Algumas solitárias, outras acompanhadas e solitárias e algumas parecendo felizes. Durante toda minha vida eu vi pessoas. Sempre atarefadas, com muita vida pela frente, despreocupadas com o futuro, sabendo exatamente o que procuravam, cansadas do hoje. Na verdade, eu nunca acreditei nas felizes, que parecem ser maioria. E já faz algum tempo que não acredito mais na felicidade. Não sinto mais todas essas coisas que são feitas para fazer felicidade, e elas apenas me entristecem. E isso parece ser a fonte de vida das pessoas, essas coisas feitas para dar felicidade. E fico ainda mais triste. Meu peito dói. Parece que sinto as dores de cada ser vivo. Que sinto o infinito delas, o real, onde estas pessoas são elas mesmas. Seres infelizes e desgraçados procurando espaço, atenção, informação. Realmente gostaria de poder sentir apenas eu mesmo, de ser apenas eu mesmo por um momento, para me conhecer, para me sentir, sei que mesmo assim, ainda sofreria muito, mas sofreria por mim com toda responsabilidade. Sim, meu peito ainda dói. Alguns que lêem esta minha última lembrança, talvez se perguntem por que não pedi ajuda ou mesmo pode não tentei me ajudar. Mas era impossível. Não sentia forças em nada. Não tinha confiança em nada. Como eu teria ajuda de algo mais fraco do que eu? E eu não posso esquecer do medo. O medo que me destruiu, o medo que me impediu de ser eu mesmo, de tentar e conseguir lutar. Sempre vivi criando personalidades que fariam de mim o ser ideal, mais amado, mais destemido, mais corajoso. E o medo me impediu de eu conseguir me transformar nessas personalidades. Impediu que eu me transformasse em meus sonhos. Talvez para a maioria irá parecer ridículo como alguém joga fora a única coisa que realmente tem, a vida. Mas eu nunca tive nada. Sempre existi somente para os outros, para o mundo, eu fui o que me ensinaram ser, e desde que nasci são me dadas instruções de como devo pensar e agir. E é assim que sou. E se agora morro, esse é o primeiro ato que faço por mim mesmo. Eu poderia esperar um pouco mais. Tentar procurar caminhos, soluções, exemplos. Mas vocês me matam todos os dias. Não suporto mais esperar por algo que não está em minha mente, algo improvável. Algo que sei que todos lutarão contra mim para que eu não alcance. Cansei de todos os dias em que me vestia, que comia, que aprendia o que não me pertencia. Cansei dos dias de sofrimento, em que eu chorava escondido para ninguém me ver. Cansei de sentir o peito doer, e não ter forças para pará-lo. Tudo que quis foi apenas ser eu. Às vezes, por alguns instantes, eu esquecia e simplesmente era alguém, um outro qualquer. E logo depois eu voltava, cheio de remorso e vinham as lágrimas amargas daquela falsa felicidade. Eu sempre desejei lutar para que tudo mudasse, no fundo, eu queria que tudo mudasse por minha causa, e mais no fundo, eu queria que tudo mudasse instantaneamente. Que o sol nascesse e tudo acordasse perfeito, em ordem, exatamente como acredito ser o lugar perfeito e as pessoas perfeitas. Mas é impossível e meu peito dói. Talvez eu devo perdir perdão por ter decepcionado vocês, ou por não ter completado a simples missão de continuar o caminho que me traçaram, mas nesse momento, o meu egoísmo é maior que minha dor, é maior que meu medo de errar, meu egoísmo é maior que meus desejos. Eu lutaria se tivesse alguém do meu lado, sim, eu juro que lutaria, mas agora só quero dormir. E nunca mais acordar.

Petrus Evelyn
Enviado por Petrus Evelyn em 09/01/2009
Código do texto: T1375231
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