CARTA A UMA PRETENDENTE
Vitória, 02 de outubro de 1985
Querida V....
Espero que esta que destilo de minha alma movido por dulcíssimas lembranças, te encontre em harmonia na paz e a felicidade; não digo no amor, pois neste se a tiveres, não agradará a meu ânimo que almeja para si os teus encantos. Porém se o amor já estiver no brilho dos teus negros olhos, hás de compreender-me.
O egoísmo é lícito quando por força dos sentimentos aspiramos ao amor e, lícito é buscar a felicidade.
Em ser feliz contigo muito me aprazem as tentativas, pois que embora vãs, permitem-me viver momentos de grande prazer, não por acreditar em êxito, mas por sentir a magia indescritível de um sonho lindo, de inolvidáveis esperanças. Mas se por força dos teus desejos a sorte nos tanger em caminhos bifurcados, e eu navegar despido deste belo intento, jamais faltará compreensão em mim, embora contrariando o alvedrio da alma, estarei querendo te encontrar beijando flores e saciando os teus desejos nos jardins dos teus sonhos. E eu, mesmo triste, estarei vibrando à sombra da vida e, sonhando com o frescor e a pureza das fontes espirituais, mesmo morrendo ao ver-te em outros braços.
Um raio de angústia discorreu meu peito ao saber que eras noiva, se fiz por compreender, todavia, foi por mera sensatez de espírito, porém, confesso aqui que me senti um facínora diante de mim, e o mundo era um patíbulo imenso que oscilava encarcerando-me no fio da vida.
Agora aqui, escrevendo-te esta carta, vejo-te em miragens em que me abraças e beijas-me ... Contudo não é senão fantasias que inundam meus momentos solitários. São teus olhos essas visões insaciáveis...
Dize-me se sonhar eu posso, colibri formosa, dize-me em resposta breve, ou dize-me um adeus, mas que seja logo para que eu possa abafar em mim esta incerteza.
Geraldo Altoé
(obs: não consegui a namorada)