Meu Querido Diário...
Olá, meu amigo, há tanto tempo não te escrevo, que resolvi fazer isso de uma forma diferente dessa vez.
Minha vida mudou tanto...
Há quatro meses eu deixei de ser eu mesma para me tornar a mãe do meu filho.
Acordo toda hora no meio da noite só para ver se ele está respirando. Se está com frio, se está com calor...
Desperto com o som da fome dele, derrubando a casa toda querendo mamar. Ou sobressaltado com algum terrível pesadelo com o “bicho-papão”. Meu amigo, nem consigo descrever a sensação maravilhosa de abraçar meu filho e acalmar sua agonia. Como é bom ver o seu sorriso... Seu idioma especial tentando se comunicar comigo e me dizer o que ele quer.
Tem horas que bate aquele pânico, ao pensar que essa coisinha tão pequenina depende integralmente de mim neste momento de sua vida.
Tem horas em que ele aperta minha mão tão forte, como se me dissesse para nunca mais ir embora de perto dele.
E eu olho enternecida para aqueles olhinhos tão lindos, que já me olham com tanto amor e percebo que realmente, nunca mais poderei deixá-lo. Pertenço totalmente a ele agora.
Todos os meus momentos são dele.
Daqui a pouco voltarei à “vida normal”. Trabalho, faculdade, amigos, risadas, estresses, etc etc etc... Amigo, estou apavorada!!! Estou morrendo de medo de não encontrar mais meu lugar no mundo lá fora. Digo mundo lá fora, porque aqui com meu filho, construí um mundo só nosso. Um mundo onde tudo é azul, toda felicidade é real e todos os sonhos são possíveis.
Me diga, meu amigo, como sair de perto desse abraço para voltar ao mundo que tenta te derrubar a todo instante? Ao mundo onde você vive o tempo todo sendo testada pelos seus chefes, pelos seus amigos, por você mesma.
Uma amiga me disse que eu estou sofrendo uma crise de identidade. Que eu preciso deixar de lado a mãe e reencontrar a mulher. A mulher que sempre “ralou” muito para conseguir tudo que precisava. A mulher que chora em final de novela. Que se emociona se uma amiga diz que a ama. A mulher que ama e que é amada.
A verdade, querido diário, é que não sei como reencontrar a mulher, porque ser a mãe do meu filho virou minha vida de pernas para o ar.
Só de pensar que o dia de sair da minha “hibernação” se aproxima, meu coração aperta tanto que meu peito parece que vai sufocar.
Sei que você deve estar pensando, nossa, que mulher doida! Isso são coisas da vida, afinal o rio um dia precisa voltar ao mar! Mas confesso que estou me sentindo como uma criança que aprende a andar. Ou como alguém que bebeu todas as doses possíveis e agora não consegue caminhar em linha reta.
Sei que esses pensamentos não condizem com alguém que agora carrega a responsabilidade de educar uma criança, mas só tenho você para contar as minhas fraquezas. Porque há momentos em que não sou a fortaleza que todos pensam. Há momentos em que me sinto como um náufrago em meio a uma tempestade em alto mar, sem qualquer farol para guiá-lo.
Então, meu querido amigo, se você quiser ser o farol da vez, sou toda ouvidos, mente e coração.
Obrigada por mais uma vez ouvir minhas bobagens, meus pensamentos malucos e por dividir comigo mais este momento único e tão importante na minha vida.
Um beijo.