Teleférico

Grande amigo, quanto tempo?! Estou voltando de férias e que férias! Voei para outros mundos, outras galáxias. Posso dizer que viajei pela “primeira” vez com minha amada, que sonho! Que luxo! Foi como se estivéssemos em lua-de-mel. Nada mais belo que as imagens que foram se formando em nossas mentes ávidas por novidades. Fomos sem saber o que iríamos encontrar apesar de todas as indicações que tivemos dos Lagos Andinos, nos disserem que era tudo diferente do que já havíamos visto até então. De fato, o Chile e a Argentina merecem respeito.

Um dos passeios mais encantadores foi a subida de um teleférico. Ele levava ao cume de um morro que permite uma visão cinematográfica da natureza, que não cobra nada para desnudar-se aos olhos de quem admira o que é belo em muito mais que branco e preto. O olhar e a mente se perdem entre um lago e outro, entre uma “foto” e outra. A sensação de estarmos mais próximos dos deuses cunha uma metamorfose de sons e cores. A cada respiração mais profunda tudo se desmitifica, tudo se codifica. Cada um tentava descrever com gestos a generosidade que via e tentava preservá-la na memória para sempre, como se isto fosse possível para todos os humanos. O jeito era recorrermos às nossas infalíveis máquinas fotográficas, que registravam momentos únicos, ímpares.

A conclusão que tiramos foi de que os deuses se reuniram para uma festa e acabaram por esboçar os traços primordiais daquela paisagem digna do orgulho daquele povo.

Minha amada, certamente era a mais inquieta, não perdia um só movimento: fosse das folhas, das flores ou das asas do condor que fingia não nos ver lá do alto da cordilheira. Com gestos e palavras tentava fazer-me ver que eu não havia visto o que ela via e revia incansavelmente.

Nós e os nossos companheiros de viagem, que ali estavam, havíamos deixado o Brasil de vários Estados da Federação. Todos, sem distinção, tentavam fazer comparações, por mais simples que fossem, com o seu Estado. A conclusão era sempre a mesma: aquela pintura era única.

O mais engraçado da viagem foi o que aconteceu na subida do tal teleférico, comigo e mais dois “marinheiros de primeira viagem”. O mais corajoso, um delegado de polícia, acostumado com o inusitado e o perigoso, chegou a comprar o ingresso para a escalada do morro, mas na hora H, o “camarada” amarelou. Não teve coragem de encarar o rampado. Eu e o outro corajoso, que sequer tivemos a ousadia de comprar os ingressos, antes da subida já sabíamos que nossas mulheres eram bem mais abusadas. Ficamos os três ao sopé do morro contando vantagens de outras aventuras. Ainda bem que nossas corajosas mulheres não nos escutaram. Para justificar meu medo, joguei a responsabilidade para o Rodrigo, que é um sujeito alto e forte, com cara de bravo. Falei para minha amada: se ele for eu vou. Quando ele disse que não iria fiquei radiante. Esbravejei: __ Já que ele não vai, vou ficar aqui para fazer-lhe companhia. O delegado, quando chegou sua vez, virou-se para o guia, que não sabia de nada do nosso medo, e “ordenou”: “já que você nos guiou até aqui, termine o serviço, por favor, acompanhe minha mulher e traga-a de volta sã e salva”.

Eu pensava que o único medroso era eu, na verdade éramos três, cada qual com sua desculpa.

__ Ah, meu amigo disse que eu sou como um Condor, com dor aqui, com dor ali. Será que é por isso que tenho medo de altura?

Pedro Cardoso DF
Enviado por Pedro Cardoso DF em 27/11/2008
Reeditado em 04/12/2022
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