Comentário ao texto "A TV QUE EMBURRECE AS PESSOAS" de julio Galli
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Grande Julio!
Obrigado pela visitinha lá nos meus arrabaldes.
Quanto ao texto, o senhor está inundado de razão.
Porém, ainda acho que a situação não seja tão simples assim.
Afinal, acredito que a recíproca também seja verdadeira. Explico:
As emissoras de televisão, como muito bem sabemos, têm fins lucrativos. Aliás, levam isso bem a sério. Diria até que a televisão pode ser considerada um verdadeiro ícone do capitalismo.
Assim, muito embora também desempenhem um papel de formação de opinião, a programação televisiva não deixa de ser um reflexo do nível cultural (e educacional) da população.
Portanto, se “reality shows”, “danças do Créu”, “Domingões do Faustão” e outras mazelas do tipo são habitualmente transmitidas pela telinha, é justamente porque têm grande audiência.
Suponha que alguém tivesse a genial idéia de investir massivamente em educação de qualidade (papinho manjado, eu sei, mas convenhamos: Ninguém tentou isso ainda), e a maioria da população começasse a pensar de verdade, de forma crítica.
Acredito que se isso acontecesse (mas frise-se: não acredito que vá acontecer), programações estapafúrdias teriam pouquíssima audiência, e, portanto, teriam de ser sumariamente cortadas da programação, não concorda?
Desta forma, temos que a televisão é muito mais um resultado do que uma causa, muito embora definitivamente uma coisa não exclua a outra.
Mas o que vejo é justamente o inverso: Acaba-se tratando o resultado como causa principal, como se uma programação televisiva mais inteligente fosse solucionar toda a conjuntura social, como num passe de mágica.
Ajudaria? Claro! Mas convenhamos: O buraco é tão mais embaixo que chega a ser atrás...
Talvez toda essa magia conspiratória a respeito da telinha se deva ao deslumbramento humano por obras artísticas que retratam realidades distópicas (fictícias, até que se prove o contrário), ao melhor estilo 1984, de Orwell. Big brother is watching you, my friend!!
Afinal, é muito mais confortável acreditar numa conspiração universal de ordem maléfica do que aceitar a própria ignorância. Na dúvida, culpa-se a Rede Globo.
Particularmente não acredito que uma empresa que tem uma programação tão tosca possa ter a devida perspicácia para galgar planos conspiratórios mais complexos do que uma “trama” da novela das oito.
Já em relação às pesquisas, muita calma nessa hora!
Acho muito difícil ser possível se conseguir resultados confiáveis para temas tão subjetivos como, por exemplo, “felicidade” ou “burrice” através de uma simples pesquisa de opinião. No mínimo, suspeito.
Que modelo estatístico poderia ser tão genial?
Por exemplo, como se pode concluir que o excesso de peso em crianças possa ser atribuído a quantidade de anúncios de fast food que a mesma vê na televisão?
De repente, o simples fato de a criança ter o hábito de assistir televisão por grandes períodos (vendo anúncios ou qualquer outra coisa) já revele um modo de vida mais sedentário, e, portanto, mais propenso à obesidade. Ou não... A questão é: Não há como saber ao certo. São só especulações.
Estatísticas sobre temas complexos e subjetivos que dão resultados muito simples e claros são normalmente tendenciosas (muitas vezes, até encomendadas).
É como a velha história do pesquisador lusitano que estudava a reação das aranhas ao terem suas pernas arrancadas, uma a uma.
A cada perninha arrancada, o cientista ordenava ao aracnídeo: “Anda!”, e este correspondia à ordem arrastando-se com cada vez mais dificuldade na medida em que ia perdendo suas pernas.
Ao final da experiência, o brilhante gajo chega à extraordinária conclusão de que, ao perder suas oito pernas, as aranhas tornam-se surdas...
No mais, é isso.
Parabéns pelo texto.
Abraço!