Primeiro amor.

São quatro da manhã e me perco sem sono no vazio da noite, a mesma que agora se inverte em dia, entre doces cores de mormaço e de singela poesia. Não consigo dormir. Pensamentos correm ao sabor do tempo. Rabisco. Recomeço. Me perco, mas lhe confesso: não há palavras que expliquem o meu universo inverso.

Momentos passam reluzentes quando fecho os olhos. O coração palpita novamente. Bate rápido com a lembrança do que a pouco aconteceu: momentos que lembro antes de dormir, quando me confundo entre o dia, a madrugada, a realidade e o sonho acordado ao lado teu.

Foram duas estrelas cadentes que cruzaram o céu. Tão raro me é parar e olhar para a cima, mas hoje tivemos sorte. Tenho tido muita sorte – inclusive no amor. E a conversa sem pressa em um gramado qualquer teve então algo de especial que no silêncio me marcou. Teve dois brilhos rompendo o céu. E vários disparos dentro dos corações.

Era momento de fazer pedidos, e o pouco tempo enquanto se desfaz no ar é então oportuno para desejar o que o coração sinceramente quer. É o segundo onde a razão, a realidade e a desilusão não têm espaço. É o puro desejo disparate, de evasão e sensação do coração.

Não há tempo para fantasiar o querer, descobri isso quando a primeira estrela rompeu o céu e o meu desejo surgiu em mente, tão freqüente que se passava no silêncio de olhares teus. Fechei os olhos e com sinceridade desejei o que me peguei surpreso a descobrir – mas desejo de estrela cadente não se conta a ninguém, é mais um segredo renitente que o peito guarda só para si.

Exceto este que não é um segredo, e não convém esconder ou guardar para si só. Na segunda estrela minto que não me lembrei de pedir algo. Pra ser sincero, o meu primeiro desejo já era realidade, não havia um segundo – um outro querer sincero no peito que já não estivesse existindo. Sorrio, disfarço e continuo entre um cafuné e outro no cabelo teu.

Porque o que desejei já estava ali entre os meus braços, em meio àquele gramado qualquer, me observando e tateando meus lábios com uma paz que eu nunca pensei encontrar. Eu desejei ser feliz. Não precisei mais desejar, e por isso meu peito acelerado se mostra agora embriagado, de um sentimento que só faz transbordar – e não me deixa dormir, nem eu quero acordar.

Tenho mais do que eu preciso, estar contigo é o bastante. Desejei a felicidade, a tenho ao teu lado. Desejei não ter medo, e já não sou porto para ele, pois tuas palavras me deram confiança e certeza, talvez até mais do que eu próprio confesso mereça. Desejei amar, então descobri o amor. O meu primeiro amor – entre estrelas cadentes e o barulho do mar, entre sussurros contentes e um beijo a roubar.

E agora já não preciso mais desejar, procurar. Não é preciso palavras para explicar o meu universo em verso.

Lucas Sidrim
Enviado por Lucas Sidrim em 27/11/2008
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