Uma carta sem destinatário - O náufrago
Nos momentos em que a saudade aperta, senhorita, recordo o oceano sem fim que vi no fundo do teu olhar na primeira vez em que naufraguei.
Sinto ainda hoje o sal daqueles mares quando toco com a ponta da língua numa lágrima. Mas sobrevivo, senhorita, na ilha da segurança, com uma teimosia insana de razão, lançando mensagens ao infinito sem esperança de resgate.
A solidão e o desespero do náufrago, senhorita, é que fazem com que ele aprenda que esse oceano imenso, revolto e sábio não pode ser conquistado numa primeira viagem.
Por isso, senhorita, a busca continua sempre e sempre, até que se atinja o porto seguro do amor. E muitos ainda vão naufragar várias vezes e muitos ainda vão morrer docemente no mar salgado.
Eu, por enquanto, sigo apenas contemplando a paisagem inatingível do teu olhar, senhorita, mas lançarei-me nesse oceano novamente, e naufragarei quantas vezes forem necessárias, até conquistá-lo definitivamente.