No casamento do meu melhor amigo.
O Discurso
Porque talvez eu não possa falar, ou não tenha condições de falar, afinal, é mais que meu amigo aqui se amarrando, ops, se casando.
Diz quem está lá em cima que casamento é para sempre. Eu não sou louco de desafiar quem não conheço.
Mas, Vinícius de Morais tentou um acordo com Deus, quando disse o célebre “Que não seja imortal posto que é chama mas que seja infinito enquanto dure…”.
Eu poderia dizer que os noivos são metades da mesma laranja e erguer um brinde como gostam de falar os casais no auge da paixão, quando fica um olhando para o outro o dia todo.
Logo depois desse convite que muito me honra passei a ler um pouco mais pra entender sobre matrimonio e amor, tudo bem que ainda tenho medo da palavra matrimonio e ainda não entenda o amor...pelo menos o verdadeiro.
André Maurois, escritor e ensaísta francês, foi quem disse: "O casamento é um edifício que deve ser reconstruído todos os dias".
Particularmente é uma das que mais me agrada, eu sei, o Alex será um grande construtor.
Mas nem o autor de Pequeno Príncipe, Saint-Exupery conseguiu sustentar tamanha ingenuidade, quando disse: “Amor não é olharem um para o outro, mas sim olharem ambos numa mesma direção”.
Então, meu querido, pode dar uma olhada pro lado, que ela finge não ver.
Calma, calma... os russos podem ser piores, como diria Anton Chekov:
“Um homem e uma mulher se casam porque não sabem o que fazer com si mesmos”.
E se você acha que ela vai ser assim pra sempre, ouça Marlon Brando, um veterano: - “Não importa com quem você se case, sempre acorda casado com outra pessoa”.
Quem também esta radiante hoje é a minha 3° ou 4° mãe de criação, graças a Deus tive várias mães, a dona “Ceição”, essa que hoje conclui a criação do ultimo filho e assume a dos próximos netos, e claro que ela não vai admitir mas os próximos anos são exclusivos dela e do “Vado”, não é mesmo?
Tentando um lado sério, posso falar que quando fui chamado para padrinho fiquei nervoso, afinal queria desejar minhas felicidades em forma de discurso , mas não queria a platéia dormindo em berço esplêndido.
Como falar algo sério sem que as pessoas durmam?
Talvez falando algo comum a todo mundo. Algo que possa acontecer na sua casa, na casa dele, dela, daquele, daquela, na minha.
Pensei nos meus pais. Eles comemoraram 23 anos de casados em setembro.
Nossa, nunca assinei um contrato por tanto tempo. Fiquei pensando que o amor deve ser mesmo muito maluco.
Minha avó me disse pouco antes de adoecer o que só hoje eu pude entender, que um casamento não tem regras prontas, ela, com toda aquela mansidão me disse que o casamento se resume a duas palavras e muitos conselhos enlatados, mas as duas palavras são essenciais, as palavras são: -APESAR DE...
Apesar de você querer assistir ao futebol bem na hora daquele programa de entrevista que eu adoro, eu ainda quero passar as férias com você e nossos filhos. Apesar do dinheiro não cobrir o que a gente se planejou, a gente vai junto pedir um empréstimo. Apesar de você deixar pra mim a hora da bronca dos filhos, eu ainda quero dividir meus netos contigo. Apesar da sua mãe querer ficar aqui mimando os garotos, é com ela que a gente conta quando resolvemos encarar uma segunda lua de mel. Ou vocês acham que os sogros não entram nessa brincadeira.
Quem casa não casa com uma pessoa, mas com a família toda.
Mas é em família que a gente tira retrato pra guardar, por que ali agente tem sempre um cantinho, um papel que é só nosso. E não é a toa que meu pai e minha mãe, os nossos pais presentes ou não ainda querem brincar de mestres de obra e irem construindo um futuro juntos.
Deve ser muito bom dividir um sonho, um projeto, uma realidade, fazer surgir um jardim afetivo cheio de semente que fala, que se relaciona.
Poder ouvir um filho falar uma coisa igualzinho a gente falava quando moleque. E pensar: nossa, que bom que eu não sei explicar por que isso acontece, mas chorar de emoção por causa disso.
Deve ser bacana ter uma pessoa ao lado na hora de enfrentar uma dor que não avisou que vinha. Aquela pessoa em quem você colocou uma aliança no dedo, vai estar ali fazendo valer o que prometeu nesse dia. E o abraço vem, o conselho vem, a força vem como quem diz eu ainda quero casar com você por hoje.
Em 1992, eu e aquele rapaz ali, brincando sem poucas ou melhor, sem nenhuma preocupação na cabeça; apenas em uma disputa sobre quem era o melhor na bolinha de godê, ou quem era o melhor no pique esconde; brincávamos uma infância verdadeiramente plena, e foi com ele as minhas melhores lembranças, e talvez até as minhas melhores histórias, afinal quem pode contar aos netos que trocava garrafas por picolés na rua, na época daqueles “sorvetes de Itú”, depois da escola era a “Ceição”, mamãe desse belo homenzarrão, é, esse rapaz alto e nem tão bonitão ai prestes a se casar quem me ensinava matemática ou até mesmo lições de história, sempre me senti um pouco parte dessa família tão lutadora, essa família que eu posso me orgulhar por ter convivido senão dezoito, talvez uns tantos anos mais com essa família.
Deus abençoe os pais do noivo pelo belo trabalho com esse homem diante de nós.
Preciso contar a minha melhor lembrança com o Alex, e dizer que tenho dvd’s de quando éramos pivetes pra provar que eu era mais bonito.
Quando estávamos solteiros, ops, quando ele estava solteiro consigo relembrar das vezes em que nos pegamos falando sobre as coisas que os homens falam quando estão sentados conversando - futebol, claro. E mulheres. Sem dúvida!
Ele se lamentava - nem tanto pela namorada largada, mas pelas dúvidas que nos assolam nesses momentos, do tipo: quando é que a gente vai achar uma garota legal, daquelas de casar e ter filhos?
E sem pensar eu de imediato respondia com essa minha cara de debochado que sei que tenho, "Cara, a gente não vai casar. A gente vai ficar solteiro pra sempre! A gente é imortal!"
Olhem pra ele hoje. Vejam o Senhor Alex, pra mim o eterno
“Bacho” com um sorriso bobo na cara, aliança no dedo e um futuro brilhante pela frente.
Sempre houve uma espécie de consenso entre os amigos de que o Alex é o cara mais "família" da turma. Falar bobagem ele fala como todo mundo, ou até mais; mas lá pelas três da manhã, que é a hora em que os assuntos começam a ficar sérios, ninguém tinha dúvida de que ele seria o primeiro a passar para o time dos com-camisa. Quando eu olho pra cambada de desajustados que são os meus amigos, só consigo imaginar um deles fazendo churrasco no domingo de meio-dia, depois de ter jogado bola com a filharada. Adivinhem quem é.
Por outro lado, se nós sabíamos que o Alex era o candidato mais forte a inaugurar essa nova era - porque isso não tem efeito só nele, atinge a todos os seus amigos! -, também tínhamos a certeza de que a mulher certa para ele teria que misturar doçura, firmeza e sensibilidade na medida certa. Doçura, porque não se admite casamento sem que haja um amor terno e macio; firmeza, pra lidar com o antológico mau humor matinal do domingo; e sensibilidade, muita sensibilidade pra poder mandar nele claro.
E ainda que eu pouco conheça, a Bianca já sei de notar, e já sei de ouvir, que ela tem essas três qualidades, e por certo muitas outras. Porque para o Alex ter sucumbido de maneira tão violenta, entregue, sem esboçar reação, chego à conclusão de que das duas, uma: ou ela é mesmo a versão de um sargento reformado, ou temos um raro caso onde se misturam compatibilidade instantânea, paixão de arrancar cabelo e de amor de fundo de olho.
Na minha opinião, é esse o caso.
Longa vida para os noivos! Longa vida ao ALEX e a Bianca