Nessa reta

Caro amigo, veja só quem agora escreve. Eu não me acho merecedora de grandes honras nem de grandes conquistas por ter chegado até aqui, mas me sinto, de certa forma, rumo à completude.

Muitos me diriam e me dirão: “Parabéns, veja só mais um ano, seja feliz, continue assim!”.

Sabe o que penso? Penso que não deveria haver pensamentos assim, pois se bem analisarmos a vida nada mais é do que a busca pela completude.

Viemos ao mundo nus, sem nada, e é exatamente ai que começa nossa busca.

Não nascemos a partir do momento que constamo-nos vivos, mas sim a partir do momento que passamos a ter consciência de que somos incompletos.

Nossas tentativas são sempre rumo a essa conscientização: buscamos cativar quem nos cerca, e depois de sofrer algumas vezes entendemos que nem todos são merecedores do nosso amor. Buscamos um verdadeiro amor e depois de algumas lágrimas doloridas, passamos a ver que se é amor não devemos buscá-lo. Buscamos nos enquadrar em alguns grupos com pessoas que julgamos parecidas conosco, e depois de alguns meses percebemos que nossas mudanças são tão constantes, que quem tiver de estar ao nosso lado, vai mudar assim como nosso humor.

Passamos a buscar uma sensação tão boa que possa ser dito ao menos uma vez “essa foi a melhor vez que...”, sem perceber que a melhor vez acontece a cada segundo, pois cada vez que respiramos criamos em nós a expectativa de que haverá mais algumas horas para desfrutarmos das cores que a vida envolve. Somos aquarela; aquarela tão nova quando a que acaba de ser produzida, e precisamos nos mover a fim de criarmos novas cores.

Quando você nasceu, eu te disse, ainda não tinha consciência da aventura que seria entender que estava incompleto,mas, no momento de seu nascimento, te entregaram uma coisa da qual você nunca abandonaria: um pincel. E foi nesse momento que você se fez artista. Um novo personagem da cena principal. No começo você pensou que era um figurante, mas foi o seu pincel que te trouxe a percepção que você mudaria as cores que te cercam, você é principal junto com todos os outros principais.

Tive fases monocromáticas: já fui preta, já fui vermelha, já fui branca. Mas quando misturei as cores, percebi o quanto viver é interessante. Posso com meu pincel fazer cores lindas e novas e posso dizer quando me perguntarem “qual sua cor favorita?”, responder : “cor- de- aquarela em movimento”.

Quero escrever aqui, vida em movimento, palavra cantada e cores em ascensões, para te fazer entender como cheguei a mais um ano, meu amigo.

Conversamos muito e com muitas pessoas, em todas elas aprendemos muito, ora aprendemos que é bom conversar, ora entendemos que às vezes o silêncio é bem esclarecedor e um excelente instrutor. Tem gente que aos primeiros amigos entende que a jornada da busca da cor ideal a própria vida será uma longa caminhada. Mas tem gente que mesmo depois de “já feito grande o bastante” ainda não entendeu a tela em branco que sua vida se fez.

Ainda não estou completa, amém. Caso estivesse completa eu não teria mais motivos para dizer que concluiria mais um ano.

Busco hoje, a cor ideal capaz de me fazer dar mais alguns passos rumo a mais um ano. E, você meu amigo, tem agora aqui nesse papel, toda a minha história. Eu não sei descrever em que passo está a minha tela, não sei escrever cores, mas espero tê-lo passado todo o encanto que sinto ao ver que hoje sei que “a vida só é viva quando se há cores em constantes movimentos, e que esses são os verdadeiros responsáveis pelas cores que nos formam verdadeiros entendedores de vida vivida”

Ísis Almeida Esth
Enviado por Ísis Almeida Esth em 20/11/2008
Reeditado em 15/12/2008
Código do texto: T1294495
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