Melancolia
Carta recebida por José Floriano da Costa - Ano: 1963
Meu estimado colega 2-7-63
José Floriano
Saudações
Peço a Deus saúde e felicidades para você e toda sua família, porque o quero bem e o estimo muito.
Recebi sua carta e agradeço sua atenção para comigo e todo o bem que fazes a mim.
Foi muito gentil mandando-me a letra que eu pedi, Pena da Saudade, muito bonita, e também estou contente por você se lembrar de mim com outra, esta Laço de Amor. Não encontro palavras para te agradecer, peço desculpa a minha falta de senso.
Agradeço também as palavras bonitas que você escreveu e enfim toa a sua bondade, embora somos amigos só de longe, eu ainda sou feliz por merecer sua amizade mesmo de longe.
Desculpe também minha imprudência se demorei para escrever e ainda o faço em folhas de caderno.
Sempre sonho com você e com aquele tempo bom quando vinha em Ouro Fino. Você os violeiros Sereno Serenato. Mais o que é bom dura pouco. Se eu ouvir outra vez aquela voz, quero morrer.
Pode rir de mim, mas é verdade, foi-se os bons tempos e com ele a felicidade.
No mais termino esta com muitas saudades e desejo de todo o coração e minha alma, que você seja feliz.
Sua namorada manda lembranças e retribui-lhe o abraço.
Aceite também lembranças e votos de felicidades de sua amiga Sissi.
Desculpe alguma coisa. Vai para você um soneto de minha autoria, Melancolia.
MELANCOLIA
Ó luz! Ó alma na amplidão suspensa!
Ó astros puros, ó luar, ó sol!
E, em noites tristes de tristeza imensa.
Ó luz feita harmonia, ó rouxinol!
Como eu vos quero ainda! E como é triste
Sentir a vossa doce claridade,
Este bater de onda da saudade
Sobre a imagem d'um bem que não_
existe!
Lá vem a lua, pálida desmaiada,
Pela amplidão da abóbada azulada
A grinalda das estrelas desfolhando...
Sonambula de amor, com mãos piedosas
Entorna as longas taxas luminosas
Por sobre o coração que está chorando.
Ao José Floriano da Costa uma recordação minha, da amiga autora Sissi.
Capelinha, 2-7-63.