A INVEJA E A INTRIGA NO ASSOCIATIVISMO LITERÁRIO

(para Aida Machado Domingues, em Campo Grande/MS)

Poeta, querida amiga! Parabéns pelas realizações e pelo oportuno relato sobre as atividades da UBE/MS durante a gestão 2005/6, tempo em que lideras o grupo dirigente.

Admiro tanto a União Brasileira de Escritores, de Campo Grande, que fico preocupado quando percebo ruídos na comunicação interpessoal. Abro a alma por amor.

Não posso e nem devo entrar no mérito de condutas administrativas de política cultural. Não me cabe. Não sou santo de casa, pois não moro na "cidade morena", tampouco pertenço aos quadros da entidade. Mas amo essa cidade tão progressista, porque antevejo o seu futuro intelectual, sua verve promissora. Transpira-se, nela, a emoção cabocla e o purismo dos corações amantes de paz e de progresso.

Também o ingente esforço da administração municipal em aproximar os seus escritores – principalmente os poetas – dos cânones da contemporaneidade estética, sem socavar o que está sedimentado.

Tenho dado a minha contribuição pessoal na área da poética, nos últimos quatro anos. Passaram pelas minhas mãos mais de sessenta escritores. Aprendi muito com eles. Meus alunos sempre alargam o mundo, redimensionam-me. É assim que vivo a polir a "minha pedra bruta".

A terra é quase virgem e fecunda. Bebo água na fonte e sorvo idéias, amizades, condutas, exemplos vivos de quem olha e antevê o horizonte. Os dadivosos ares de Mato Grosso do Sul me imantam ao trabalho e às realizações.

Tenho tido tanto cuidado com o panorama associativo-cultural local que aguardamos, pacientemente, o momento propício para a fundação da Casa do Poeta Brasileiro local, a futura POEBRAS CAMPO GRANDE. Tenho algum temor de que a criação de nova entidade local afaste ou cause atrito entre lideranças do ativismo literário consolidado ou entre os emergentes econômicos, espirituais e sociais.

Torço sempre pela consolidação da UBE/MS, que me trouxe até essa boa terra, pelas mãos generosas de Darci Cunha e de Ruberval Araújo Cunha, seu presidente, em 2003.

Foram estes expressivos agentes culturais que me apresentaram à figura ímpar da professora e escritora Iolete Moreira, ex-presidente desse colegiado, hoje prestando serviços à causa do solidarismo na Fundação Municipal de Cultura, e que, com suas ações calcadas na inteligência e na operosidade, tanto vem dignificando o associativismo literário local.

Tenhas muito cuidado, preciosa ativista cultural, pra que outras pessoas não deturpem o teu relato de administração, ou que venham a pegar carona no que foi feito pela entidade. Tenho experiência nisto. Sempre alguém quer ser pai ou mãe da criança! Mas só a adotam depois de crescida!

Cada instituição do associativismo literário e cultural tem de seguir sua senda de realizações. Mas é no período eleitoral, de mudança de diretoria, que a delação e a intriga se fomentam. Dificilmente há bombeiros para apagar o fogo.

A maledicência escoa nos rios pequenos e, por vezes se tornam caudais, acaso não se mostre com clareza o que foi feito em equipe. Erros e acertos sempre compõem o quadro. Quem pensa que vence sozinho, que é o único condutor dos atos e que, portanto, deve ser o único receptor de aplausos, agradecimentos ou loas, comete o erro maior. Será objeto fácil para a intensa delação.

É necessário vencer com ânimo as vicissitudes, para que se cristalize a verdade. A mediania ou a mediocridade sempre tem pedras pra jogá-las em quem trabalha. Mas não se pode fugir disto, deste assanhamento deletério. Só a máquina que trabalha gera atrito, as outras só ocupam espaço, mas não dizem a que vieram.

Acabo de me lembrar, neste final de papo, da força de certas expressões ditas para estimular os agentes de mudanças e transformações sociais. Bendita oralidade anônima na boca do povo:

— Toca o barco que atrás vem gente!

– Do livro CONFESSIONÁRIO – Diálogos entre a Prosa e Poesia, 2006.

http://www.recantodasletras.com.br/cartas/127834