Carta a minha companheira Dona Razão
Companheira Dona Razão,
Hoje compreendo que foi você o meu maior erro, o meu maior defeito, mas também sei, que por minha culpa, minha própria vontade, por medo de errar talvez. Sim, por medo de errar, racionalizei minha vida, meus sentimentos.
Fiz de você o meu porto mais que seguro, e nele impedi várias vezes que a minha emoção viesse aportar.
Agora aqui estou, mas madura e consciente, percebo que até fui feliz, porém, até poderia ter sido muito mais, se não tivesse colocado você sempre em primeiro lugar.
Tento transpor minhas enumeras barreiras e assim permitir que esse barco, que por longos anos armazenou minhas emoções em seus porões, venha até meu porto, e que dessa vez, eu o deixe descarregá-las.
Sei que nesse dia, me depararei, com coisas, que nem eu mesma supunha ainda vicejar, por meu esquecimento, e pelo tempo.
Confesso, que o certo Senhor Medo ainda me domina, mas que em algumas vezes, poucas vezes, eu já consegui, e hoje me permito mais, muito mais do que a tempos atrás.
Causa-me ainda um pavor, não sentir o chão sob meus pés!
A emoção para mim é tão abstrata, tão intocável!
Jogar-me na vida sem rede de proteção, sem o seu amparo, ainda é um sonho!
Sonho que hei de me permitir, nem que seja pelo menos uma vez em toda minha existência.
Sei que a vida é errar e acertar, mas pouco tenho me permitido arriscar.
Resolvi lhe escrever, pois que já sinto sua breve partida. Ela não me entristece, e sei também, que mais do que ninguém, vais saber me entender.
Sei também que não irás para muito longe, essência não se muda de uma hora para outra, mas agora que já posso sentir o doce cheiro da emoção, quero com ela compartilhar momentos felizes e ao final poder dizer:
Que minha concreta razão, andou de braços dados com a minha linda e não mais abstrata emoção!