Carta para você
Novamente me pego buscando notícias. Nada.
Nem ao menos um recado.É aquela sensação de abandono.
O que tem feito? O verão terminou e o outono tornou-se
agradável. Nada de calor excessivo e de preguiça vespertina.
Ouço rádio e todos os meus cd´s. Continuo lendo bastante.
Muito romance,muita ficção, muita poesia. Quando
tropeço em algo, a memória mistura tudo. Aí sim, a vida
copia a arte. O que penso ser verdadeiro é na realidade,
ficção.
Continua desacreditando no amor eterno? Também continuo.
Aliás, pensar o amor é mais fácil que vivê-lo. Tudo no
imaginável é mais belo e consistente.
Deve ser por isto que me vem a sensação de frustração,
porque nem o imaginário consegue colorir o amor. Quando
muito, tenta umas pinceladas de criatividade, que no
primeiro deslize, borra toda a imagem.
Mas vou lhe confessar: está faltando emoção. Tudo muito
insosso e opaco. Tudo por demais estacionado. Hoje tenho
a absoluta certeza que não sou deste mundo. Ou talvez
esteja fora de órbita, época errada, sei lá. Algumas coisas
não deram certas.
Daí me dá aquela sensação de inutilidade.
Continuo querendo notícias. Irei recebe-las? Fiquei mais
espiritual, mais mística. Uma hora saio voando. Assim mesmo.
Do nada. Viro anjo.
Agora me deu uma ótima sensação: flutuação. Etérea.
Que maravilha irromper o abstrato.
Mas, mudando de assunto, deverei colocar uma nota no rodapé
da folha. Leia. Sou feliz, apesar de tudo. Feliz, porque
existir me basta. E é muito bom cantar. A musicalidade me
persegue. Canto porque o canto insiste em dó, ré, mi, fá,
sol e lá, si. E pauto-me. Afinal ficou a sensação coerente
do ser. E eu sou. Ser desperta, ser poeta, ser mutante.
Nota de rodapé:
Mande notícias. Torço por você.